CUT:‘Eleito, Aécio fará aeroporto no quintal dele’
Josias de Souza
29/07/2014 07h25
Observado por Lula, o presidente da CUT, Vagner Freitas de Moraes, fez duros ataques ao presidenciável tucano Aécio Neves na noite desta segunda-feira. Deu-se na abertura da 14ª Plenária Nacional da entidade. Ao discursar, o sindicalista fez referência ao aeroporto que o governo de Minas construiu no município de Cláudio. A pista de pouso fica a 6 km da Fazenda da Mata, um refúgio da família Neves que Aécio visita amiúde.
Ardoroso defensor da reeleição de Dilma Rousseff, Vagner Freitas disse que a classe trabalhadora "não pode errar" na escolha do próximo inquilino do Planalto. "Alguém acha que a eleição do Aécio vai significar investimento em políticas públicas de qualidade no Brasil? Não. Ele vai fazer o que ele sempre fez. Imagina! Ele, como senador, já faz aeroporto na casa do pai dele! Se for presidente da República vai fazer aeroporto no quintal dele!"
O mandachuva da CUT revelou-se profundamente desinformado. Construída ao custo de R$ 13,9 milhões, a pista de pouso ficou pronta em 2010. Aécio aprovou-a como governador de Minas. Só assumiria sua cadeira no Senado em fevereiro de 2011. De resto, o aeroporto não fica na "casa do pai" do tucano, morto há quase três anos. Foi plantado em terras desapropriadas de Múcio Tolentino, tio-avô de Aécio.
Alheio à precisão, Vagner Freitas entregou-se a um vale-tudo retórico no seu esforço para espinafrar Aécio. A CUT está empenhada em recolher assinaturas para colocar de pé uma reforma política com plebiscito. "Se nós conseguirmos o plebisto popular e o Aécio ganhar a eleição, ele joga esse plebiscito no lixo."
"Se continuarmos conseguindo todos os aumentos reais de salário das campanhas salariais e o Aécio ganhar a eleição, nós vamos ter problema", prosseguiu o presidente da CUT. "E vamos ter que fazer campanha para defender empresas publicas, nossos direitos, para ter salário, porque ele vai acabar com a gente."
No Apocalipse esboçado por Vagner Freitas, "se o Aécio ganhar a eleição, ele vai acabar com a conquista que nós construímos com o presidente Lula de valorização do salário mínimo, que é a questão social mais importante do Brasil." Ao concluir o seu discurso, transmitido ao vivo pela internet, o comandante do braço sindical do PT repassou o microfone para Lula, cacique supremo da tribo partidário-sindical.
Ironicamente, Lula utilizou parte de sua fala para reclamar do terrorismo eleitoral que a mídia e o mercado finaceiro estariam fazendo com Dilma Rousseff. Estendeu-se, por exemplo, nos comentários sobre o texto enviado pelo banco espanhol Santander aos clientes mais endinheirados, para dizer que a economia iria piorar se Dilma for reeleita. Lula revelou que conhece Emilio Botín, presidente mundial do Santander.
"Acho que meu amigo Botín criou um problema sério", disse Lula, antes de recordar uma passagem da sucessão presidencial de 2002. Contou que o espanhol Botín acabara de chegar ao Brasil. "Foi visitar o meu comitê. E, naquela época, as pessoas diziam que os banqueiros não iam fazer investimentos, que o mercado iria correr e não sei mais o quê."
"O Botín falou assim pra mim: 'Se usted quiera, eu posso hablar com la prensa'. Eu falei: puede hablar. E ele ele fez um discurso dizendo que o mercado não tinha nenhuma precupção, que ia continuar acreditando no Brasil, investindo no Brasil, porque ele sabia da responsabilidade do nosso governo. Agora, depois de tantos anos, não tem nenhum lugar do mundo em que o Santander esteja ganhando mais dinheiro do que no Brasil. Aqui, ele ganha mais do que Nova York, Londres, Pequim, Paris, Madrid, mais do que Barcelona."
Lula dirigiu-se aos cerca de 600 delegados estaduais presentes ao encontro da CUT como se estivesse conversando com o próprio presidente do Santander: "Ôoo, Botín, é o seguinte, querido: tenho consciência que não foi você que falou. Mas essa moça tua que falou não entende porra nenhuma de Brasil. E não entende nada de governo Dilma. Manter uma mulher dessa num cargo de chefia é, sinceramente… pode mandar embora e dá o bônus dela pra mim, que eu sei como falo."
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.