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No Ceará, Ciro atira em Eunício e acerta em Cid

Josias de Souza

30/07/2014 03h23

O divertido da lógica política é que ela tem olho de lógica, nariz de lógica, boca de lógica, palavreado de lógica, mas é incoerência pura. Nada mais divertido, por exemplo, do que tentar acompanhar o pensamento lógico de Ciro Gomes. É tão profundo que dificilmente é atingido pelo cérebro.

Na noite desta terça-feira (29), Ciro participou da inauguração do comitê de campanha do petista Camilo Santana, que disputa o governo do Ceará como candidato do governador Cid Gomes. A certa altura, Ciro esculachou o peemedebista Eunício Oliveira, que encabeça a coligação adversária.

"Eu não respondo pelo Camilo", disse Ciro. "Respondo unicamente por mim. E vou falar o que penso. O que está em jogo é entregar o governo a um aventureiro, lambanceiro e mentiroso. Não podemos entregar o governo a alguém que quer usar o espaço para enriquecer ainda mais. Daquele outro lado tem uma mistura de pinóquio com irmão metralha. Um petralha, um pinotralha."

Até anteontem, Eunício era um dos mais festejados aliados do grupo político dos irmãos Gomes. Cid dizia em público que lhe tinha eterna gratidão. Num comício, o governador referiu-se ao híbrido de "pinóquio com irmão metralha" em termos enobrecedores. Num trecho levado à internet por correligionários de Eunício (assista abaixo), Cid diz coisas assim:

"Eu devo profundamante ao Eunício Oliveira, esse senador que vocês devem se orgulhar muito de ter no Senado Federal. Eunício me deu, numa hora decisiva, o apoio decisivo para que eu pudesse ter o sonho de governar o Estado do Ceará. […] Eu estarei muitas vezes com Eunício, no futuro, em muitas lutas pelo Estado do Ceará e pelo Brasil."

Considerando-se que Eunício patrocinou a nomeação de vários apadrinhados para cargos na administração de Cid, é incontornável a tentação de levar a lógica de Ciro às últimas (in)consequências. Seu irmão entregou pedaços do próprio governo a prepostos de "um aventureiro, lambanceiro e mentiroso", cujo projeto de vida é "enriquecer mais." Quer dizer: pela lógica de Ciro, Cid está mais para cúmplice do que para administrador público.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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