Empregos: queda atrapalha o discurso de Dilma
Josias de Souza
21/08/2014 16h04
No programa eleitoral de Dilma Rousseff, o Brasil é um país extraordinário. Os fatos é que às vezes atrapalham um pouco. O Ministério do Trabalho divulgou os dados do emprego em julho. Numa comparação com julho do ano passado, a criação de vagas formais, com carteira assinada, caiu 71,5%. É o pior resultado desde 1999. No período de janeiro a julho, a queda foi de 30,3% em relação aos primeiros sete meses de 2014. Coisa pior só havia ocorrido no primeiro semestre de 2009.
Na estreia de Dilma no horário eleitoral, a marquetagem de sua campanha acomodou belas frases sobre o emprego nos lábios de uma narradora bonita. O Brasil "evitou que a crise internacional entrasse porta adentro da casa dos brasileiros", disse a moça. A gente olha para Europa, para os Estados Unidos, e vê quantos milhões de empregos foram destruídos nos últimos anos. Aqui, ao contrário, o emprego aumentou."
Considerando-se os índices colecionados pelo próprio governo, o discurso eleitoral da campanha de Dilma é frágil e enganador. É frágil porque busca no retrovisor os dados que escasseiam no parabrisa. É enganador porque celebra o aumento do emprego num instante em que as vagas começam a faltar. A desaceleração vem desde março. Na indústria, julho foi o quarto mês consecutivo de saldo negativo.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.