Petrodelação despeja óleo queimado na eleição
Josias de Souza
05/09/2014 21h02
Como previsto, Paulo Roberto Costa, o ex-diretor preso da Petrobras, moveu a língua. Em troca de redução da pena, ele revela à Justiça segredos que estavam armazenados abaixo da camada pré-moral da maior estatal brasileira. O repórter Mario Cesar Carvalho conta que pingaram dos lábios do delator os nomes de 62 políticos que morderam propinas. São 12 senadores, 49 deputados e um governador. Gente filiada a três partidos: PT, PMDB e PP.
Na cadeia, Paulinho, como o depoente é chamado na intimidade, vinha dizendo que não haveria eleições em 2014 se ele contasse tudo o que sabe. Enquanto espera pelas novidades, resta à plateia raciocinar com hipóteses, desde as mais amplas —na pior das hipóteses, a sucessão presidencial será engolfada pelo óleo queimado, na melhor das hipóteses ficará com óleo pelo nariz— até as mais específicas.
No caso do que o país pode esperar com uma delação à vera de Paulinho, o leque das hipóteses é enorme, já que todo mundo tem uma noção do que foi feito da Petrobras depois que os partidos tomaram a estatal de assalto. A melhor das hipóteses é que o ex-diretor confirme que o dinheiro saía mesmo pelo ladrão nos contratos da Petrobras. A pior das hipóteses é que ele informe que os ladrões entraram nos contratos da Petrobras com autorização superior.
Dependendo do que está por vir, é possível que os protagonistas do governo tenham que se reposicionar na cena eleitoral. Talvez precisem fazer pose de administradores ingênuos ou políticos distraídos sendo usados por salteadores. Este é um governo dos patrimonialistas do PT, do PMDB e congêneres. Mas quem bota a cara na tevê por eles é a Dilma, quem fica com a má fama é a esquerda guerrilheira, que combateu a ditadura para acabar como marionete.
Por sorte, João Santana dispõe de um bom tempo de propaganda. Na pior das hipóteses, o marqueteiro de Dilma disfarçará os interesses escusos que se escondem atrás da boa biografia. Na melhor das hipóteses, ele ajudará a manter a ilusão de que há em Brasília alguém que comanda.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.