PT lança Lula-2018, mas Lula-já faz mais nexo
Josias de Souza
06/09/2014 05h54
Com a presença de Lula, o PT fez uma reunião nesta sexta-feira para pedir à sua infantaria partidária que ressuscite o velho Partido dos Trabalhadores. Deseja-se que a militância desça ao asfalto para guerrear por Dilma Rousseff.
Reelegendo-a, o partido prepara "a volta de Lula em 2018", disse Rui Falcão, presidente do PT federal. "O caminho mais curto e melhor para o Lula voltar é a Dilma ser reeleita", ecoou Emídio de Souza, presidente do PT de São Paulo.
Por que esperar mais quatro anos?, eis a pergunta que não cala. Uma pesquisa interna revelaria que 101% do petismo prefere Lula a Dilma. A lei autoriza a troca. Como se fosse pouco, a conjuntura intima o PT a retirar seu craque do banco.
Diz-se que Lula rejeita a hipótese da candidatura imediata. No futuro, quem sabe?, costuma responder. Pena. Com a presença de Lula o jogo faria mais nexo, já que as encrencas que ameaçam a reeleição de Dilma nasceram no governo dele.
Chama-se Paulo Roberto Costa o personagem que, a partir deste final de semana, roubará (ops!) a cena eleitoral. Ex-diretor da Petrobras, foi preso em março. Teve os negócios varejados pela PF.
Ao perceber que a cana seria longeva e que a investigação arrastara sua família para dentro do pesadelo, Paulo Roberto dobrou os joelhos e abriu a boca. Entregou mais de seis dezenas de políticos cevados à base de petropropinas, numa espécie de mensalão 2.0.
Nomeado por Lula em seu primeiro mandato, Paulinho, como o então presidente o chamava, foi à diretoria de Abastecimento da Petrobras por indicação do PP. Com o tempo, foi avalizado por PT e PMDB, os dois sócios majoritários do empreendimento governista.
Paulinho só deixou a Petrobras em 2012, já sob Dilma. Saiu sob elogios e agradecimentos pelos serviços prestado$. Abriu consultorias e passou a controlar contratos da estatal de fora para dentro. Até ser fisgado na Operação Lava Jato.
Dilma será convidada a explicar a petromalandragens. Vai escorregar no óleo. Pode-se escutá-la por antecipação: "No que se refere ao combate à corrupção, este governo fortaleceu a PF e os órgãos de controle. Não há mais engavetador-geral da República, como no passado, blá, blá, blá…"
A terceirização das justificativas empobrece o espetáculo. O lero-lero de Lula não explicaria coisa nenhuma. Mas seria mais divertido. Nesta sexta, sem mencionar o nome de Paulinho, o padrinho de Dilma ensaiou um discurso: "Se dentre nós, alguém cometer erro, que pague! O que a gente não pode é perder o orgulho de ser petista".
Afora os dois debates presidenciais já realizados, há outros dois por transmitir —um deles na Globo. Lula representaria melhor o PT nesses compromissos do que Dilma.
Além das questões sobre a roubalheira, seria divertido ouvir a ex-petista Luciana Genro, hoje presidenciável do PSOL, perguntando a Lula, com comentários da também ex-petista Marina Silva, o que foi feito da ex-Dilma, aquela gerente de mostruário que foi vendida ao eleitorado como uma presidente dos sonhos.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.