Marina Silva chora ao falar dos ataques de Lula
Josias de Souza
13/09/2014 05h59
Aconteceu na noite da última quinta-feira (11). Sentada ao lado de Marina Silva no banco de trás do carro que a levava para o hotel, após 13 horas de intensa campanha no Rio de Janeiro, a repórter Marina Dias testemunhou o estrago promovido pelas críticas de Lula na alma da presidenciável do PSB. Instada a comentar os ataques do antigo companheiro de partido, a ex-petista fez um desabafo, seguido de choro.
"Eu não posso controlar o que Lula pode fazer contra mim", disse Marina. "Mas posso controlar que não quero fazer nada contra ele". Olhos umedecidos, Marina disse ter dificuldade para acreditar no comportamento de Lula. E buscou consolo nos ensinamentos pretéritos do neo-detrator.
"Quero fazer coisas em favor do que lá atrás aprendi, inclusive com ele, que a gente não deveria se render à mentira, ao preconceito, e que a esperança iria vencer o medo. Continuo acreditando nessas mesmas coisas", afirmou Marina. Ela soou como se lamentasse o fato de Lula tratá-la agora do mesmo modo como foi tratado por Fernando Collor na sucessão de 1989.
"Sofri muito com as mentiras que o Collor dizia naquela época contra o Lula. O povo falava: 'se o Lula ganhar, vai pegar minhas galinhas e repartir. Se o Lula ganhar, vai trazer os sem-teto para morar em um dos dois quartos da minha casa'. Aquilo me dava um sofrimento tão profundo! E a gente fazia de tudo para explicar que não era assim. Me vejo fazendo a mesma coisa agora."
Já defronte do hotel, no bairro de Copacabana, Marina permaneceu em silêncio por alguns segundos. Recomposta, desceu do carro. E, virando-se para a repórter, contemporizou: "Mas não tenho raiva de ninguém não, nem da Dilma. Vou continuar lutando."
Desde que as pesquisas fizeram dela uma ameaça real à reeleição de Dilma, Marina vem sofrendo um intenso bombardeio da infantaria petista. No comando dos canhões, o marqueteiro João Santana tenta abater a oponente sem transformá-la em vítima. Obteve dois resultados: estancou o crescimento de Marina e amealhou leves oscilações de Dilma para o alto, dentro da margem de erro das pesquisas.
O choro de Marina revela os riscos da estratégia. Para sorte de Dilma e da falange petista, a ex-seringueira emocionou-se no ambiente reservado do automóvel. Imagine-se o efeito eleitoral de meia dúzia de lágrimas dessa versão feminina de Lula vertidas sob refletores e reproduzidas em rede nacional pelas cadeias de televisão.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.