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Eleitor vai às urnas no escuro sobre o essencial

Josias de Souza

23/09/2014 05h40

A 12 dias do encontro com as urnas, o eleitor brasileiro permanece no escuro em relação ao essencial. Admita-se que há duas crises sobre a mesa: a econômica e a ética. Quanto à primeira, os candidatos revelam-se capazes de quase tudo, menos de esmiuçar seus planos. Quanto à segunda, sabe-se que nem o petróleo é mais nosso. Um delator esclareceu que já não existem coisas nossas. Só existe Cosa Nostra. Mas o manto diáfano do segredo processual ainda protege a máfia.

À medida que o PIB cai e a inflação sobe, os receituários econômicos dos candidatos vão se tornando mais aguados, seus discursos mais evasivos. Todos sabem o que terá de ser feito. Nesta segunda-feira, o ex-presidente do BC Armínio Fraga, guru econômico de Aécio Neves, disse que a economia brasileira foi acometida de infecção generalizada.

"É uma septicemia, não é uma verruga que você precisa tirar. É grave mesmo", disse Armínio. Com maior ou menor ênfase, a gravidade do quadro é admitida também atrás das cortinas nos comitês de Marina Silva e até no de Dilma Rousseff.

Considerando-se que ninguém combate septicemia com aspirina, vêm aí providências mais duras. Por exemplo: corte pesado de despesas, realinhamento dos preços da luz e da gasolina, reformulação do seguro-desemprego, reforma da Previdência e um imenso etcétera. Os presidenciáveis não falam sério com o eleitor porque a política virou apenas um ramo da publicidade.

Na semana passada, na sessão da CPI da Petrobras, o deputado Sandro Mabel (PMDB-GO) suplicou ao delator Paulo Roberto Costa que confirmasse ou desmentisse a lista que corre o noticiário com os nomes dos supostos beneficiários de petropropinas —gente graúda do Executivo e do Legislativo, incluindo o número 3 e o número 4 da linha sucessória.

"O senhor sabe que, hoje, o nome que o senhor acusar está morto", enfatizou Mabel. E o delator: "Me permito ficar calado." Nem todo político é bandido. Mas o silêncio de Paulinho, como o delator costumava ser chamado por Lula, deixa todos os gatunos um pouco mais pardos, desafiando a falta de discernimento do eleitor.

Se a sucessão de 2014 fosse um parque de diversões, poder-se-ia dizer que começou no carrossel, encontra-se na montanha russa e vai terminar no trem-fantasma.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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