Para Janot, Everaldo caluniou Dilma: ‘ladrões!’
Josias de Souza
23/09/2014 14h06
A pregação eleitoral do Pastor Everaldo não atraiu o rebanho de eleitores que o presidenciável do PSC desejava. Mas rendeu-lhe uma inimizade eterna. Dilma Rousseff guerreia no Tribunal Superior Eleitoral para ocupar o horário eleitoral do pastor. Reivindica o direito de responder à propaganda acima, levada ao ar em 13 de setembro. Nela, Everaldo diz coisas assim:
"Lamentavelmente, no Brasil de hoje, bilhões de reais somem no ralo da corrupção. O meu, o seu, o nosso dinheiro está sendo roubado por esse bando de ladrões. Hoje fica claro, o mensalão foi apenas o começo da maior roubalheira da história desse país. Agora, novamente vemos membros ligados ao governo do PT envolvidos em um escândalo ainda maior."
Em representação protocolada no TSE, Dilma queixou-se de que a propaganda do pastor lhe atribui, de forma injusta e ilegal, a responsabilidade por supostos atos de corrupção praticados na Petrobras. Acha que o comercial induz o eleitor a tomar como verdadeira a tese segundo a qual haveria no governo um esquema permanente de desvios de verbas, tramado por um "bando de ladrões."
Chamado pelo TSE a manifestar-se sobre a pendenga, o procurador-geral da República Rodrigo Janot deu razão a Dilma. Em parecer enviado ao ministro Tarcísio Vieira de Carvalho Neto, relator da representação contra Everaldo, o chefe do Ministério Público Federal considerou a propaganda "caluniosa e injuriosa". E opinou a favor do deferimento do pedido de resposta de Dilma.
O caso agora será levado ao plenário do TSE, composto de sete ministros. O mesmo colegiado que julga um pedido de Marina Silva para responder à propaganda em que a campanha de Dilma sustenta que a independência do Banco Central faria sumir a comida do prato dos pobres.
No comercial que abespinhou Dilma, o Pastor Everaldo indaga: "Será que o Brasil aguenta mais quatro anos dessa roubalheira?" Ele insinua que falta responsabilidade à presidente que, até outro dia, contava com o apoio do PSC no Congresso. "Chegou a hora de mudar para um governo responsável," diz agora o pastor. Na peça, ele faz uma promessa: "Como presidente, você jamais vai me ouvir dizer a frase: 'eu não sabia de nada'."
De fato, Everaldo não repetirá o bordão de Lula e Dilma. Não que seu hipotético governo vá extinguir o regime da ilicitocracia. O problema é que Deus, embora exista, ainda não foi convencido de que a Presidência do irmão Everaldo deva existir. Seja como for, deve-se torcer para que Dilma prevaleça no TSE. Será divertido assistir a mais um sermão do discípulo João Santana.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.