Pesquisas levam dramaticidade ao debate final
Josias de Souza
01/10/2014 05h32
As oscilações de humor do eleitorado, captadas pelas últimas pesquisas, adicionaram dramaticidade no enredo do último debate presidencial do primeiro turno. Será transmitido pela Rede Globo na noite de quinta-feira, nas pegadas da novela. Numa disputa em que a encenação prevalece sobre a razão, uma participação chocha pode custar caro. Os candidatos vão à arena com objetivos bem definidos.
Em queda nas sondagens eleitorais, Marina Silva precisa convencer a plateia de que não merece ser desligada da tomada. Para isso, terá de exibir disposição para desempenhar no segundo round um papel diferente do de crufificada vitalícia. Deus existe, não há dúvida. Mas já está claro que Ele confiou o departamento de marketing ao Diabo, que o terceirizou ao João Santana. No penúltimo debate, exibido pela Record, Marina foi derrotada antes de molhar a camisa. Perdeu o prumo nos primeiros cinco minutos do jogo, quando Dilma atravessou no seu caminho a macumba da "mentira" sobre a votação da CPMF. Um novo fiasco pode lhe ser fatal.
Aécio Neves vem dizendo que sua experiência pessoal e os quadros que o tucanato é capaz de reunir são mais compatíveis com os desafios do Brasil do que o voluntarismo quixotesco de Marina. Mas sua recuperação nas pesquisas é demasiado lenta. É como se as pessoas enxergassem no PSDB a imagem de um elefante sem um rajá, isto é, sem um líder que o monte.
Para tentar seduzir o pedaço do eleitorado antipetista que migrou de Marina para a coluna de indecisos, Aécio terá de ser esfuziante diante das câmeras. Nos últimos dias, o presidenciável tucano compareceu a vários atos de campanha com o ex-craque Ronaldo a tiracolo. No debate, precisa evitar uma repetição do mistério do final da Copa na França, quando o Ronaldo teve desempenho pífio justamente na hora em que mais se esperava dele. Para Aécio, a simples vitória no debate não basta. Precisa de um triunfo com show.
Dilma vai à peleja em situação menos desconfortável. Evitando o uso excessivo da expressão 'no que se refere a…', desviando das caneladas e garantindo um zero a zero, a candidata oficial já estará no lucro. As pesquisas indicam que uma vitória no primeiro turno, embora possível, é improvável. Mas se Dilma, por algum milagre, conseguir encarnar no debate uma personalidade autêntica, diferente das muitas que seu marqueteiro lhe indicou, quem sabe…
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.