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'Daqui a pouco, Lula só será ouvido por programas humorísticos', afirma FHC

Josias de Souza

09/10/2014 04h36

Em nota divulgada nesta quarta-feira (8), Fernando Henrique Cardoso reagiu com ironia à maneira como Lula interpretou declarações que ele fizera numa entrevista ao UOL. "O presidente Lula não se emenda, vive de pegadinhas", anotou o grão-tucano. "Não só atribuiu aos outros frase sua —a de que o Bolsa Escola era esmola— como quer transformar uma categoria do IBGE, nível educacional, em insulto. Daqui a pouco ele só será ouvido em programas humorísticos."

Num texto veiculado na terça-feira (7), Lula insinuara que, na véspera, FHC destilara preconceito contra o eleitorado nordestino, que votou majoritariamente na sua pupila Dilma Rousseff. "É um absurdo que o Nordeste e os nordestinos sejam caracterizados como ignorantes ou desinformados por seus votos", anotou. "Primeiro porque isso é fruto de preconceito lastimável, segundo porque mostra um desconhecimento profundo da atual situação do Nordeste brasileiro."

Sem mencionar o nome de seu eterno alvo, Lula referia-se ao trecho da entrevista de FHC em que ele, instado a comentar a mudança do perfil do eleitorado do PT, que migra da classe média escolarizada para as faixas mais pobres da sociedade, afirmou: o eleitor do PT, "na verdade, está fincado nos menos informados, que coincide de ser os mais pobres. Não é porque são pobres que apoiam o PT, é porque são menos informados. Como era a Arena no tempo do regime militar."

FHC acrescentara: "Essa caminhada do PT dos centros urbanos industriais para os grotões é um sinal preocupante do ponto de vista do PT, porque é um sinal de perda de seiva ele estar apoiado em setores da sociedade que são, sobretudo, menos informados."

E Lula: "Quem faz afirmações deste tipo imagina o Nordeste da década de 90 ou de antes, onde reinavam a fome, o desemprego e a falta de oportunidade. Por isso muitos, como eu, tiveram que abandonar sua terra natal e migrar para outras regiões em busca de melhores condições de vida."

Nesta quarta, enquanto FHC ironizava Lula por meio de nota, Dilma ecoava seu padrinho político numa entrevista em Brasília e, posteriormente, num ato de campanha realizado no Piauí, Estado nordestino onde ela obteve mais de 70% dos votos:

"Tem gente que olha pro Nordeste com olhar de quem governou o país só para outra região. Aqueles que dizem que aqui estão as pessoas com menos compreensão, com menos educação, que não sabem votar é porque não acompanharam tudo o que vem acontecendo aqui nesta região do Brasil."

Na sua entrevista, como que antevendo o que estava por vir, FHC tivera o cuidado de calibrar as declarações: "Aqui em São Paulo, quando o PSDB ganha, ele ganha porque tem apoio de pobre, não por ter apoio de rico. Quando ganha na Paraíba também. O PT também, não é só… Agora, na propaganda, o PT costuma fazer uma separação entre elites e povo, ricos e pobres. Isso é mais um jogo de marketing. Nos resultados, efetivamente, o PT tem crescido nos rincões. Mas eles têm presença também em algumas áreas urbanas e industriais, não há dúvida."

Noutro trecho, FHC dissera que "a falta de informação é uma responsabilidade do Estado, não da pessoa. […] Não tenho nenhuma visão elitista. Quando o Lula foi acusado de não poder governar porque não tinha curso superior, eu fui o primeiro a dizer que isso é uma bobagem. Governa quem tem liderança."

Lula deu de ombros para o afago. Em seu texto, após empilhar os benefícios que os governos petistas propiciaram ao Nordeste, anotou: "Os nordestinos, hoje, não são mais personagens de tristes reportagens sobre as migrações para os grandes centros urbanos. Eles podem viver nas suas terras de origem com dignidade e oportunidade."

Mantido esse diapasão, o eleitorado logo, logo terá saudades do baixo nível que marcou a campanha no primeiro turno da disputa presidencial.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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