Câmara adiou caso Vargas 1, 2, 3, 4, 5, 6 vezes
Josias de Souza
10/11/2014 07h39
A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara já adiou a análise do pedido de cassação do mandato de André Vargas (ex-PT-PR) uma, duas, três, quatro, cinco, seis vezes… Para protegê-lo, seus colegas adotam a tática do avestruz. Enfiam a cabeça no corporativismo e esvaziam as sessões. Dono de um fôlego de felino, Vargas pode obter sua sétima sobrevida em reunião marcada para as 14h30 desta terça (11).
Vargas tornara-se uma cassação esperando para acontecer quando se descobriu que ele pendurava viagens de jatinho na conta do doleiro Alberto Youssef, um dos protagonistas da Operação Lava Jato. Seu mandato revelou-se definitivamente de vidro depois da constatação de que tricotava, junto com Youssef, negócios no Ministério da Saúde.
O Conselho de Ética aprovou o encaminhamento do pedido de cassação de Vargas ao plenário da Câmara em 20 de agosto. Mas o amigo de Youssef recorreu à Comissão de Justiça. Ali, o deputado Sergio Zveiter (PSD-RJ) preparou um parecer favorável à cassação. Para decidir, a comissão precisaria reunir pelo menos 34 dos seus 66 membros. Mas o quórum mínimo vem sendo sistematicamente negado.
Vargas já decidiu: se a CCJ sonegar-lhe a sétima sobrevida —e a oitava, e a nona, e a décima…—, seus advogados recorrerão ao STF. Sob a falsa alegação de cerceamento do direito de defesa, pedirão a extinção do processo. Sabem que irão perder. Mas o objetivo é protelar.
André Vargas não perde por esperar. Ganha a perspectiva de chegar ao final do ano legislativo sem ser cassado. Nessa hipótese, mantém intactos os seus direitos políticos. E pode se candidatar em 2014. Um acinte.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.