Aécio refuta ministro da Justiça: ‘caso de polícia’
Josias de Souza
15/11/2014 18h38
A nota de Aécio foi uma resposta ao ministro José Eduardo Cardozo (Justiça). Mais cedo, após conversar por telefone com Dilma, que se encontra na Austrália, Cardozo convocara os repórteres para acusar a oposição de tentar converter a investigação do escândalo na Petrobras num prolongamento da disputa sucessória. "Já houve o resultado das eleições. A investigação não é terceiro turno eleitoral", ele batera.
Na véspera, num ato político realizado em São Paulo, Aécio comentara a deflagração da nova fase da Lava Jato, que levou para o xadrez, entre outros, executivos de empreiteiras e o ex-diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, suspeito de receber propinas em nome do PT.
Irônico, Aécio dissera que "muita gente está sem dormir em Brasília." Acrescentara que as novas prisões empurram a corrupção na Petrobras para dentro do governo de Dilma. Ecoando-o, Fernando Henrique Cardoso afirmara que, como brasileiro, está "envergonhado". Daí a entrevista de Cardozo, combinada com Dilma.
"O país está sendo conduzido dentro da lei, e as investigações prosseguirão", disse o ministro, como se, a essa altura, o Ministério Público Federal e o Judiciário admitissem qualquer interferência nos inquéritos." No dizer de Cardozo, a apuração avançará "doa a quem doer." Segundo ele, "o governo não aceitará intimidações nem acusações indevidas. O Brasil é um Estado de direto, com instituições fortes e com um governo que combate à corrupção."
Referindo-se ao caso como o "mais escândalo de corrupção da história do país," Aécio escreveu em sua nota que o PSDB e seus aliados da oposição esperam mesmo que as investigações evoluam. Insinuou que a apuração precisa escalar o organograma do Estado.
"…Tão importante quanto responsabilizar diretores da Petrobrás que se transformaram em operadores do esquema, ou empresas que dele participaram, é identificar e punir os agentes públicos que permitiram o irresponsável aparelhamento da companhia e criaram as condições necessárias para a expropriação de recursos públicos, para dele se beneficiarem direta ou indiretamente."
De resto, Aécio sustentou que é Cardozo quem politiza as investigações, não a oposição. Queixou-se da sindicância que o ministro da Justiça mandou abrir contra delegados que participam da Lava Jato e elogiaram Aécio nas redes sociais na época da campanha eleitoral.
"Não contribui para o livre encaminhamento das investigações a injustificada iniciativa do ministro da Justiça de abrir inquérito contra delegados da Polícia Federal que participam da operação, pelo simples fato de terem exercido o direito constitucional de manifestação política em suas redes sociais privadas", anotou Aécio.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.