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Arrocho em corruptores da Petrobras é histórico

Josias de Souza

15/11/2014 05h34

No Brasil, a ideia de que o parceiro ativo é tão culpado quanto o parceiro passivo num ato de corrupção nunca prosperou de verdade. Estava subentendido que essa era a maneira de fazer negócios. Por isso, a expedição de mandados de prisão contra 25 executivos de grandes empreiteiras, entre eles cinco presidentes, tem um aroma de história.

São prisões preventivas e temporárias. Não se confundem com sentenças condenatórias. Mas, num país que se habituou a aceitar a corrupção com objeto e sem sujeito, um simples interrogatório representa  uma novidade alvissareira.

Uma época é mais ou menos como uma festa. Acaba sempre com uma boa faxina e um exame de consciência. No futuro, quando os livros puderem falar sobre a farra da Petrobras sem o receio de encontrar alguém escondido dentro do sofá, 2014 será lembrado como o ano de nascimento de uma nova época. Uma época em que o Brasil descobriu que oferecer propina também é pecado.

Recomeça agora uma nova festa. Entre a conclusão dos inquéritos e o veredicto, deve durar mais de cinco anos. Não dá para dizer como será. Mas é possível prever que, se não terminar em punição, a ressaca será de amargar.

Sérgio Moro, o juiz da Operação Lava Jato, mandou que a PF recolhesse ao xadrez executivos das mais vistosas logomarcas da empreita: Camargo Corrêa, OAS, Queiroz Galvão, Mendes Júnior, Iesa, UTC e Engevix. Na Odebrecht, não houve prisões. Mas os escritórios foram varejados por uma batida policial.

Juntas, essas empreteiras colecionaram na Petrobras contratos de R$ 59 bilhões desde 2003. Outra novidade: o doutor Moro mandou bloquear as contas bancárias dos presos. Somam R$ 720 milhões. Cogitou trancar também as contas das empreiteiras. Mas teve receio de inviabilizar-lhes o funcionamento.

Há 20 anos, a plutocracia foi pilhada remunerando falsas consultoriais de uma empresa de PC Farias. Ninguém teve que dar muitas explicações. No caso dos anões do Orçamento, as empreiteiras tiveram o desgaste de meia dúzia de manchetes. Mas ficou nisso.

Abriu-se no Congresso uma CPI para os congressistas corruptos do Orçamento. Produziu cassações. Circulou também a ideia de abrir uma CPI para os corruptores. Foi abatida em pleno voo. Outras operações da PF, como a Castelo de Areia, ruíram no STJ graças a tecnicalidades levantadas por advogados bem remunerados.

Na Lava Jato, as provas não são feitas de areia. As prisões escoram-se sobretudo em documentos e depoimementos de delatores. O material parece forte o bastante para justificar mais do que algumas horas de má exposição. Com sorte, a Papuda terá de abrir mais duas alas: uma para os ativos e outra para os passivos. Não vai acabar com a corrupção. Mas pelo menos vamos parar de confundir assalto com macheza empresarial.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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