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Nem Levy sabe se Dilma lhe concedeu autonomia: 'A gente verá no dia a dia.'

Josias de Souza

28/11/2014 06h00

No seu primeiro contato com os refletores na condição de "ministro indicado", Joaquim Levy revelou-se um entrevistado capaz de produzir muitas certezas, exceto uma. Ele parece intuir que terá autonomia para gerir a pasta da Fazenda apenas até certo ponto. O ponto de interrogação.

A alturas tantas da entrevista coletiva, uma repórter endereçou três perguntas a Levy: terá autonomia para fazer os ajustes fiscais necessários para conter o rombo nas contas públicas? Haverá aumento de impostos? Fica bem para o Brasil aprovar uma lei que altera a meta de superávit primário com o jogo em andamento, como Dilma tenta fazer no Congresso?

Levy respondeu apenas à segunda indagação, ainda assim com o timbre aguado que a transição lhe impõe: "As medidas necessárias para o equilíbrio das contas públicas serão tomadas com análise, com segurança, blá, blá, blá…" Outra repórter voltou ao ponto: qual foi o grau de autonomia que a presidente Dilma conferiu ao senhor para conduzir as mudanças na economia?

"A autonomia, acho que está dada", disse Levy. "Acho que o objetivo é claro", começou a desconversar. "Os meios a gente conhece", rodopiou. "Acho que há suficiente grau de entendimento dentro da própria equipe", continuou dando voltas. "Então, acho que essa questão é… Essa questão, aliás, ela vai se responder de maneira bem tranquila. Na verdade, a gente vai ver no dia a dia como é que ela ocorre."

Quer dizer: nem Levy sabe se Dilma deixará Levy fazer o que precisa ser feito para consertar o estrago que Dilma deixará como herança para si mesma. O grande problema é que os quatro anos de desmantelo do primeiro mandato não serão corrigidos do dia para a noite.

No governo, os economistas tomam suas melhores decisões, apertam os botões e têm de esperar pelos efeitos. Que talvez só comecem a chegar a partir de 2016. Ou talvez nem cheguem. Nesse jogo, é preciso ter persistência e paciência. Dilma sofrerá pressões políticas hediondas para livrar-se de Levy. Conseguirá resistir à inevitável impopularidade da travessia?

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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