Silêncio das Forças Armadas eterniza a tortura
Josias de Souza
10/12/2014 15h15
O silêncio das Forças Armadas sobre os crimes da ditadura proíbe o passado de passar. O silêncio grita há meio século que a historiografia nacional convive com um capítulo que tem início e meio. Mas não tem fim.
O silêncio eterniza o vexame da tortura. O silêncio sonega a viúvas, mães e filhos o direito de enterrar punhados de ossos sobre os quais possam derramar lágrimas e depositar flores. O silêncio impõe à nova geração de militares o convívio perpétuo com a mancha alheia.
Sob Fernando Henrique Cardoso, o Estado brasileiro pediu desculpas e instituiu a reparação financeira pelos crimes. Sob Dilma Rousseff, o Estado criou a Comissão Nacional da Verdade. Nesta quarta-feira, veio à luz a verdade que foi possível apurar sem a colaboração das Forças Armadas. Que reiteram a decisão de permanecer em silêncio.
Exército, Marinha e Aeronáutica não passam de repartições públicas. São custeadas com o dinheiro dos impostos. Aceitar passivamente o silêncio sobre a tortura e o sumiço de compatriotas seria o mesmo que tratar todos os cidadãos em dia com o fisco como cúmplices da barbárie. Certos silêncios merecem barulho. É preciso gritar: NÃO!
– Serviço: a íntegra do relatório final da Comissão da Verdade está disponível aqui.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.