Cunha se achega ao PT e revolta seus aliados
Josias de Souza
14/02/2015 04h13
Os aliados de Cunha sentiram-se traídos. Deram-lhe poder para que ele os livrasse do que chamam de "hegemonia do PT". Súbito, numa carnavalesca Sexta-Feira 13, descobriram que Cunha abrira negociações com o petismo sem consultá-los. Fez isso num instante em que o blocão de partidos antipetistas tramava controlar os dois postos de comando da CPI, alijando o PT —exatamente como sucedeu na comissão sobre reforma política, que será relatada pelo PMDB e presidida pelo DEM.
Negociam com Eduardo Cunha os petistas Sibá Machado e José Guimarães, respectivamente líderes do PT e do governo. Em privado, dão de barato que indicarão o relator da CPI petroleira. Já buscam um nome. Numa troca de telefonemas, o pedaço insubmisso do bloco de Cunha decidiu reagir. O presidente da Câmara será convidado a dar meia-volta. Do contrário, arrisca-se a produzir a primeira fenda no seu grupo de apoiadores, que parecia monolítico.
Nas pegadas de sua eleição, o próprio Eduardo Cunha informara em plenário que seu bloco, por majoritário, teria a primazia na escolha dos cargos na Mesa diretora da Câmara e nas comissões. O regime de pão e água que excluiu o PT da Mesa e do comando da comissão da reforma política perduraria pelos quatro anos da atual legislatura.
Nessa estratégia, caberia ao PMDB indicar o presidente e o relator da CPI da Petrobras. Se o partido opta por abrir mão da relatoria, tem de ofertá-la a uma legenda do bloco, não ao PT. Com uma ponta de desalento, um dos revoltados lamuriou-se: "Queríamos nos livrar do jugo do PT e estamos caindo na hegemonia do Eduardo Cunha. Ele não pode imaginar que vai tomar uma decisão como essas sozinho."
O tema será levantado em reunião da bancada do PMDB marcada para 24 de fevereiro, dia em que o Congresso retoma suas atividades depois do feriadão carnavalesco. Vai-se saber, então, se os insatisfeitos com Cunha têm infantaria para converter o seu flerte com o petismo numa rebelião.
Longe dos refletores, Eduardo Cunha diz que a relatoria da CPI deve ficar com o PT para que o partido arroste o inevitável desgaste que as tentativas de abafar o caso trarão. Em meio ao esforço para entender as motivações do presidente da Câmara, surgiu entre seus eleitores uma interpretação bem mais malévola: o deputado joga na inviabilização da CPI para evitar desgastes adicionais a peemedebistas enrolados no petrolão, entre eles o amigo Sérgio Cabral. No limite, Cunha estaria executando uma operação de autodefesa.
Sintomaticamente, Lula reuniu-se no Rio, na quarta-feira, com a cúpula estadual do PMDB: o ex-governador Cabral, o governador Luiz Fernando Pezão e o prefeito Eduardo Paes.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
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