PT interpela Barusco e ignora Youssef e Costa
Josias de Souza
23/02/2015 18h02
As ações haviam sido anunciadas pelo presidente do PT, Rui Falcão, há 12 dias. Curiosamente, o PT se absteve de encomendar aos seus advogados ações judiciais contra outros delatores que acusaram a legenda de receber propinas provenientes de contratos na Petrobras. Entre eles o ex-diretor Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef.
De resto, as iniciativas do PT transformaram Dilma Rousseff numa personagem sem nexo. Em entrevista concedida na semana passada, a presidente havia evocado o depoimento de Barusco para responsabilizar Fernando Henrique Cardoso pela corrupção que transformou a maior estatal do país em escândalo.
Dilma dissera: "Olhando os dados que vocês mesmos divulgam nos jornais, se em 96 ou 97 tivessem investigado e tivessem naquele momento punido, nós não teríamos o caso desse funcionário da Petrobras que ficou durante quase 20 anos [beneficiando-se] de corrupção. A impunidade, e isso eu disse durante a minha campanha, a impunidade leva água para o moinho da corrupção."
O delator Barusco contara aos procuradores da Operação Lava Jato que começara a receber propinas da empresa holandesa SBM em 1997, época em que FHC governava o país. Barusco também dissera que a petrorroubalheira foi "institucionalizada" a partir de 2004, sob Lula. Daí a fortuna transferida para o PT.
Quer dizer: para Dilma e o PT, Barusco só merece crédito até certo ponto. O ponto em que foi corrupto durante o governo tucano de FHC. Até aí, ele é tão verdadeiro que justifica a inclusão da Era FHC na CIP da Petrobras. Quanto ao período de 2003 em diante, quando Lula tomou posse, o delator não merece o mínimo crédito. É visto pelo PT como mentiroso e caluniador.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.