Governo Dilma torna a oposição desnecessária
Josias de Souza
18/03/2015 20h11
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Sob Dilma Rousseff, opera-se uma revolução na rotina política de Brasília. A oposição tornou-se desnecessária. O governo governa, ele mesmo se opõe e ele próprio produz as crises que o constrangem. "Não precisamos de oposição na Câmara", lamuriou-se nesta quarta-feira o oposicionista Mendonça Filho.
Líder do DEM, Mendonça é o autor do requerimento de convocação de Cid Gomes, para dar as explicações que resultaram na sua queda do Ministério da Educação. Conforme veiculado aqui no blog, Cid dissera no Pará que há na Câmara "uns 400, 300 deputados achacadores".
Na sessão desta quarta, esperava-se que Cid pronunciasse algo que pudesse ser compreendido como um pedido de desculpas. Ele simulou um recuo, mas parecia ter ensaiado um último ato. Dono de uma língua irrefreável, o orador reafirmou seus pontos de vista e apontou, dedo em riste, para um dos "achacadores": Eduardo Cunha.
Da tribuna, Mendonça lavou suas suas mãos oposicionistas: "Deputados do PT, do PMDB, do PP, do PR assumam esse problema. É um problema da base do governo." O líder do DEM realçou o fato de Cid Gomes ter excluído a oposição do rol de achacadores. E fez as contas:
"Se a oposição, que tem cerca de 100 parlamentares, está ressalvada, os achacadores são os 400 deputados da base governista. O minsitro apontou para o centro da mesa da Câmara, precisamente para o presidente Eduardo Cunha, e o denominou achacador."
Mendonça resumiu a cena: "Ou o ministro se demite do cargo ou os 400 deputados da base do governo assumem que são achacadores. E o ministro permanece no cargo. Não há outra opção. Criou-se uma situação tão desmoralizante para a base do governo que é literalmente inacreditável. Não precisamos de oposição nesta Casa."
De fato, a situação ficou insustentável. Chamado de "palhaço" por Sérgio Zveiter, um deputado do governista PSD, Cid Gomes abandonou o plenário da Câmara. Foi direto para o gabibete de Dilma Rousseff. Demitiu-se em caráter irrevogável. Com a velocidade de um raio, o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) telefonou para Eduardo Cunha. Informou-lhe que Cid já era ex-ministro. O PMDB ameaçava migrar para a oposição.
Antes de abandonar o plenário, Cid Gomes cutucou o PMDB. Disse que certos partidos criam dificuldades para vender facilidades. "Alguns querem criar dificuldades para conseguir mais um ministério. Eu estarei mentindo se disser isso? Tinha um [PMDB] que só tinha cinco ministérios. Criou dificuldades, empecilhos. E conquistou o sexto. Agora quer o sétimo. Vai querer o oitavo, vai querer a Presidência da República."
Tomado pelas palavras, o ministro parece acreditar que o PMDB indicará o próximo ministro da Educação. Sob pena de criar dificuldades para acomodar o vice-presidente peemedebista Michel Temer na cadeira de Dilma Rousseff. Nesse ritmo, Aécio Neves, suposto líder da oposição, acabará mergulhando numa crise depressiva.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.