Eduardo Cunha: ‘Sociedade tem repulsa do PT’
Josias de Souza
12/04/2015 04h41
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As relações de Eduardo Cunha com o petismo azedaram de vez. O presidente da Câmara atribuiu ao PT e à CUT o protesto que o impediu de discursar na Assembleia Legislativa da Paraíba, na sexta-feira. Neste sábado, Cunha reproduziu nas redes sociais entrevista que havia concedido na saída do legislativo paraibano. Nela, foi ao ataque.
Disse, por exemplo, que o PT desperta "repulsa" na sociedade. E chamou a CUT de "braço sindical pelego". Acusou a central sindical de remunerar manifestantes. "O PT não vai constranger o PMDB pelo país", disse o deputado a certa altura. "O PMDB não vai aceitar ser constrangido pelo PT. Esse é o recado que nós estamos dando."
Um repórter quis saber se o vice-presidente Michel Temer, novo coordenador político do governo, respalda as posições de Cunha. E o deputado: "Vossa Excelência pergunte a ele."
A viagem de Cunha à Paraíba integrou um programa batizado de "Câmara Itinerante". A pretexto de debater temas como a reforma política, o deputado voará para todos os Estados. Já havia sido hostilizado em São Paulo e Porto Alegre. Em João Pessoa, manifestantes vaiavam, sopravam apitos e brandiam cartazes com a expressão 'Fora Cunha'. E ele: "O PT mostra sua intolerância em todos os locais."
Cunha acrescentou: "O PT faz movimentações orquestradas, utilizando seu braço sindical, que deveria estar quinta-feira na CPI, onde estava o tesoureiro do PT [João Vaccari Neto] prestando esclarecimentos sobre corrupção na Petrobras. Esses movimentos deveriam estar lá, contestando e cobrando a apuração da corrupção, e não estar tentando impedir o debate da reforma política."
O presidente da Câmara vinculou a manifestação da Paraíba ao projeto sobre trabalho terceirizado, cujo texto-base acaba de ser votado e aprovado pela grossa maioria dos deputados, mesmo sob o cerco da CUT. "Esse braço sindical pelego que está aqui, movimento pago, orquestrado, como foi em Brasília. Pessoas recrutadas nas periferias de Brasília a R$ 45 por pessoa", disse.
Prosseguiu: "Nesse projeto que foi aprovado, que os destaques [emendas] vão ser aprovados na terça-feira, que o PT e a CUT se opõem com radicalização, os trabalhadores têm 80% dos artigos reconhecendo os seus direitos. Então, quem diz que o projeto de terceirização é contra o trabalhador quer enganar o trabalhador, quer usar uma bandeira política para desvirtuar o verdadeiro sentimento que a sociedade está tendo de repulsa com o PT. Essa é que é a verdade."
Cunha mencionou propostas que pretende aprovar contra a vontade do petismo. Além da terceirização, citou redução da maioridade e uma reforma política dos sonhos do seu PMDB, não do PT. Insinuou que o partido de Dilma Rousseff recebeu dinheiro por baixo da mesa no escândalo da Petrobras.
"O PT defende financiamento público de campanha, mas no ano em que não teve eleição, arrecadou R$ 83 milhões. O tesoureiro do PT nao pôde responder a perguntas sobre acusações de que o PT recebeu oficialmente qualquer tipo de contribuição indevida. Então, se o PT defende financiamento público, não deveria ter recebido privado." Como se vê, será espinhosa a missão atribuída por Dilma a Michel Temer de pacificar o condomínio.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.