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Traições na oposição garantiram vitória a Dilma

Josias de Souza

07/05/2015 04h21

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Na primeira batalha legislativa do ajuste fiscal, Dilma Rousseff livrou-se da derrota graças aos votos que obteve em quatro partidos de "oposição" ou "independentes": DEM, Solidariedade, PV e PSB. Juntas, essas legendas deram 19 votos ao governo. Sem eles, Dilma teria sofrido uma humilhante derrota na votação realizada na noite desta quarta-feira, no plenário da Câmara. Veja aqui a lista de votação.

Numa sessão conturbada, os deputados votaram o texto principal do primeito tópico do arrocho trabalhista de Dilma. O governo prevaleceu com a magra dianteira de 25 votos: 252 a 227. Na prática, bastaria que 13 deputados migrassem de um lado para o outro para que a vitória de Dilma se convertesse numa derrota de 239 a 240. Se os 19 "oposicionistas" e "independentes" tivessem votado contra a proposta do governo, Dilma teria obtido apenas 233 votos. E seus antagonistas, 246.

As maiores surpresas vieram do DEM. Nada menos que oito dos 22 deputados da legenda votaram a favor do governo. São eles: Cláudio Cajado (BA), Paulo Azi (BA), Elmar Nascimento (BA), José Carlos Aleluia (BA), Marcelo Aguiar (SP), Misael Varella (MG), Carlos Melles (MG) e Rodrigo Maia (RJ). Horas antes de digitar seus votos no painel eletrônico da Câmara, todos almoçaram com o vice-presidente Michel Temer, articulador político do Planalto.

Valendo-se de suas conexões na oposição, Temer achegou-se à bancada do DEM por meio de uma das principais lideranças do partido, o ex-deputado ACM Neto, hoje prefeito de Salvador e aliado político do peemedebista baiano Geddel Vieira Lima, amigo de Temer. A aproximação com o vice-presidente da República interessa a ACM Neto, que depende da boa vontade do Planalto para tonificar com verbas federais o orçamento de sua prefeitura.

Deve-se a Temer também a conquista de três dos oito votos do PV. Cortejados pelo vice-presidente, votaram com Dilma: Fábio Ramalho (MG), Sarney Filho (MA) e Victor Mendes (MA). O Solidariedade, amargou uma traição: Eliseu Dionízio (MS). Ironicamente, o partido é presidido por Paulinho da Força Sindical, que levou dezenas de sindicalista às galerias da Câmara para hostilizar os partidários do governo, sobretudo os petistas.

De resto, Dilma amealhou os votos de sete dos 29 deputados do PSB presentes à sessão da Câmara. O PSB rompeu com o governo para encampar, em 2014, a candidatura presidencial do ex-governador pernambucano Eduardo Campos. Com a morte de Campos, Marina Silva, que era a número 2 da chapa, assumiu o posto de presidenciável do PSB.

Marina foi moída na campanha presidencial pelo marketing destrutivo do comitê de Dilma. No segundo turno, o PSB aliou-se ao tucano Aécio Neves. Passada a disputa, a legenda declarou-se "independente". O que não impediu que votassem a favor do governo os seguintes deputados: Átila Lira (PI), José Reinaldo (MA), Keiko Ota (SP), Luiz Lauro Filho (SP), Tenente Lúcio (MG), Tereza Cristina (MS) e Vicentinho Junior (TO).

Além de expor fissuras no bloco não alinhado com o Planalto, a votação escancarou a debilidade do governo na Câmara. Generalizaram-se as traições na coligação oficial. Elas começam nos dois sócios majoritários do empreendimento governista. Dos 66 deputados do PMDB, dois se ausentaram e 13 votaram contra Dilma. Entre eles o eterno dissidente Jarbas Vasconcelos (PE). No PT, ausentaram-se do plenário nove dos 64 deputados. Dos 55 que deram as caras, um disse "não" ao pacote do governo: Weliton Prado (MG).

Entre os governistas de porte médio, o que concentra o maior número de silvérios é o PDT. Embora controle a pasta do Trabalho por meio do ministro Manoel Dias, o partido sonegou a Dilma 100% dos seus 19 votos. No PP, partido que comandava o esquema de propinas na diretoria de Abastecimento da Petrobras, revelaram-se 18 traidores num total de 39 votantes. No PTB, 11 em 39. No PR, cinco insubordinados (entre eles Tiririca) em 32 votos. E no PSD, seis traidores num universo de 32 votantes. Até no protoaliado PCdoB surgiu uma alma rebelde no rebanho de 32: o deputdo pranaense Aliel Machado.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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