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Comentários de Graça deixam Dilma mal na fita

Josias de Souza

15/05/2015 18h47

Data: 23 de janeiro de 2015. Local: sala de reuniões do Conselho de Administração da Petrobras. Sobre a mesa, o cálculo das perdas que a estatal teria de levar ao seu balanço: R$ 88,6 bilhões. A certa altura, um dos conselheiros, Francisco Roberto de Albuquerque, quis saber se os responsáveis pela conta haviam ponderado os riscos de prejuízos adicionais em processos que correm contra a Petrobras no Brasil e no exterior.

Ainda na presidência da estatal, Graça Foster reagiu assim: "Se eu vou ser presa ou não, não entrou na metodologia. Se eu vou ter que entregar a casa que moro por conta desses valores, não entrou na metodologia. Fizemos as contas como as contas são." A reação de Graça consta da ata e da gravação feitas durante a reunião, informa a repórter Andréia Sadi.

Graça relatou aos conselheiros que, em reunião da diretoria da Petrobras, ocorrida na véspera, admitira-se que os diretores falharam. Do ponto de vista administrativo, incorreram em má gestão ao permitir que a roubalheira corresse solta. Vale a pena ouvir essa Graça Foster de quatro meses atrás:

"Não é possível que essa diretoria, durante três anos, no meu caso e do [Almir] Barbassa, durante outros quatro anos, deixamos que tal coisa acontecesse. Eu posso dizer: não, mas eu era diretora de Gás e Energia e na área de Gás e Energia as coisas estão acomodadas. Mas eu, como diretora e presidente, não poderia ter deixado chegar aonde chegou."

Ao especular sobre o que poderia suceder depois da divulgação dos prejuízos, Graça soou assim: "Aí até fala [sic] em prisão. Até fala em prisão tem aqui. Eu estou falando de uma metodologia 'by the book'. Agora, o que vai acontecer com meu emprego? Com a minha carreira? Com a minha vida pessoal? Eu não sei, tenho os advogados que vão dizer. A metodologia tem que ser imune aos meus medos e meus receios."

Na administração pública, o que te dizem em público nunca é tão importante quanto o que você ouve sem querer. Trazidas à luz a contragosto do governo, as atas e gravações da petroleira expressam uma verdade inconveniente. Ninguém pode ser diretor e conselheiro de uma grande empresa como a Petrobras impunemente.

Ao dizer que ela, "como diretora e presidente, não poderia ter deixado chegar aonde chegou", Graça deixa pendurada na atmosfera uma pergunta incontornável: E quanto a Dilma Rousseff, que no auge dos escândalos presidia o Conselho de Administração da Petrobras?" Bem, a presidente se escora no surrado bordão: "Eu não sabia". E acha que com isso está isenta de todas as culpas. Como a plateia não é boba, a popularidade de madame roça o assoalho.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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