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Cunha quer criminalizar porte de armas brancas

Josias de Souza

24/05/2015 03h37

Em mensagem veiculada no Twitter, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), solidarizou-se com a família do médico Jaime Gold, 57, morto por esfaqueamento há cinco dias, na Lagoa Rodrigo de Freitas, na zona Sul do Rio de Janeiro. Informou que levará rapidamente a voto, no plenário da Câmara, uma proposta de criminalização do porte de armas brancas.

A legislação penal brasileira não tipifica como crime o porte de facas, tesouras e outras armas branca. A lei 10.863, de 2003, proíbe apenas o porte de armas de fogo, excetuando as situações em que a profissão exige —como no caso dos policiais. Daí a movimentação de Eduardo Cunha.

O autor do crime contra o cardiologista Jaime Gold, 57 anos, esfaqueou-o para roubar-lhe a bicicleta. A polícia colocou as mãos num adolescente de 16 anos. Acusou-o de ter praticado o crime. Seria a 16ª anotação em seu longo prontuário. Ele negou ter atacado o médico.

Eduardo Cunha enxergou no episódio uma oportunidade para reafirmar seu apoio a à proposta que reduz a maioridade penal de 18 anos para 16 anos, que ele também pôs para andar na Câmara. Anotou: "Esse crime e mais uma argumentação de que temos, sim, de rever a maioridade penal".

De resto, Cunha criticou Maria do Rosário (PT-RS) por uma frase que ela jura não ter pronunciado. Em textos que correram as redes sociais, atribuiu-se à deputada, que já foi ministra de Direitos Humanos, o seguinte raciocínbo: "Não podemos criminalizar o adolescente pelo acidente que causou a morte do médico na Lagoa Rodrigo de Freitas. Ele era apenas mais uma vítima dessa sociedade opressora a qual o maior exemplo são os médicos".

Eduardo Cunha foi à jugular da colega: "As afirmações da deputada e ex-ministra de Direitos Humanos são até desumanas para a família que esta sofrendo a perda." O presidente da Câmara acrescentou: "É muito fácil a gente falar assim quando a vítima e da família dos outros." O diabo é que Maria do Rosário disse que jamais pronunciou semelhante frase.

Em carta que endereçou ao Conselho Regional de Medicina do Rio, a deputada petista escreveu: "Deploravelmente, neste momento doloroso, há uma instrumentalização em curso para utilizar politicamente a morte do doutor Jaime Gold. Através de um boato falso, nas redes sociais, imputam a mim uma declaração contra a classe médica que jamais fiz e que discordo frontalmente…"

De duas, uma: ou Eduardo Cunha não viu o desmentido da deputada ou leu e não acreditou.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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