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Solução seria terceirizar o Brasil às empreiteiras

Josias de Souza

08/06/2015 04h26

No dia 13 de agosto de 2013, Dilma Rousseff sancionou a Lei Anticorrupção. Trombeteou-se na época a versão segundo a qual haveria uma onda de probidade no país. Isso porque, nos casos de assalto aos cofres públicos, a nova lei permitiria a punição também das empresas corruptoras, não apenas dos seus executivos. O cerco da Lava Jato às empreiteiras silenciou as trombetas. Entoa-se agora um coro de inspiração ecológica: "antes das baleias, salvem as empreiteiras."

O governo negocia acordos de leniência que livrem as empreiteiras da proibição de firmar novos contratos com o Estado. E um grupo de deputados trama modificar a lei para impedir que empresas corruptas sejam declaradas inidôneas e excluídas dos negócios estatais. Alega-se que as empresas são grandes e importantes demais para quebrar. Se é assim, haveria uma forma mais eficaz de resolver o problema: em vez de ser comprado pelas empreiteiras, o governo seria administrado por elas, mediante terceirização.

Um governo do cartel das empreiteiras substituiria o governo constitucional com muitas vantagens. Todos as obras públicas seriam, naturalmente, tocadas pelo cartel. O que eliminaria as licitações e a roubalheira que elas ensejam. Congressistas e servidores públicos passariam a receber salários do cartel. Além de não poder mais se vender, teriam de bater ponto.

Não haveria riscos à democracia. A cada quatro anos, o povo seria chamado a eleger uma das empreiteiras do cartel para assumir o comando do país. Camargo Corrêa, Odebrecht, Engevix, OAS, Galvão Engenharia, UTC, Toyo Setal… A abundância de alternativas propiciaria uma sensação de alternância no poder. Com uma vantagem: ninguém poderia acusar as empreiteiras de receber dinheiro delas mesmas para fazer um caixa dois de campanha.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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