Topo

Dilma se diz vítima de preconceito. É bobagem!

Josias de Souza

26/06/2015 15h42

Em entrevista ao jornal americano Washington Post, Dilma Rousseff insinuou que é vítima de machismo. A insinuação aparece em dois trechos da entrevista.

Num deles, Dilma foi instada a comentar uma mudança no seu estilo de governar. No primeiro mandato, era centralizadora. No segundo, viu-se compelida ceder poder a dois personagens: Joaquim Levy na economia e Michel Temer na política.

"Você já ouviu alguém dizer que um presidente do sexo masculino mete o dedo em tudo?", indagou Dilma. "Eu nunca ouvi isso."

Acha que o comentário é sexista?, perguntou-se à presidente. E ela: "Eu acredito que há um pouco de preconceito sexual ou insinuação de gênero. Sou descrita como uma mulher dura e forte que mete o nariz em tudo que não deveria, e sou cercada por homens meigos."

Noutro trecho, indagou-se a Dilma se ela está preocupada com a inanição de sua taxa de aprovação —irrisórios 10%, segundo o Datafolha mais recente. "Sim", disse Dilma, antes de emendar: "Preocupar-se não significa que eu arranco os meus cabelos ou perco a calma. Você tem que viver com crítica e preconceito."

Dilma precisa abandonar rapidamente a pose de vítima do preconceito. Essa pose é tão falsa quanto a tese vendida por Lula em 2010 de que a presidência do Brasil ganharia uma dose extra de eficiência com uma mulher no comando.

Uma das belezas da democracia é o fato de uma pessoa poder representar todas as outras. O fenômeno é ainda mais belo quando o voto desce à urna sem fazer discriminações biológicas.

Acomodando-se o princípio republicano da igualdade à frente de todos os outros conceitos, não há nada que distinga os seres humanos numa democracia. Nem cor nem sexo. Nada! Nessa perspectiva, a diferença entre mulher e homem é nenhuma.

No seu primeiro mandato, Dilma foi uma presidente ultracentralizadora. Era pesado o clima entre ela, seus ministros e assessores. Distribuía broncas homéricas. Alguns de seus colaboradores mediam as sílabas ao dirigir-lhe a palavra.

Disso tudo resultou um governo desastroso. Foi assim porque Dilma revelou-se um fiasco gerencial, não porque havia uma mulher na Presidência. Aliás, nada poderia ser menos feminino do que o estilo durão de madame.

Numa tentativa de ser irônica, Dilma sempre repete o lero-lero da presidente durona cercada de homens meigos. Outra tolice. Os homens do primeiro reinado eram apenas fracos. Dilma não ousa elevar a voz para o atual ministro da Fazenda porque sabe que Joaquim Levy não é Guido Mantega.

De resto, Dilma chegou ao desastre que estilhaçou sua popularidade cercada de mulheres. Para citar apenas as mais relevantes: Graça Foster na Petrobras, Gleisi Hoffmann na Casa Civil, Ideli Salvatti na coordenação política, Miriam Belchior no Planejamento… São cúmplices da ruína.

Dilma enxerga um quê de "preconceito" na avaliação mixuruca que o eleitorado lhe atribui. Tomada ao pé da letra, deve fazer péssimo juízo de Lula, que acomodou sua presidência "no volume morto".

No texto de abertura da entrevista que pendurou em seu site, o Washington Post anota que o Brasil está às voltas com uma crise econômica, que a popularidade de Dilma nunca foi tão baixa e que escândalos de corrupção sacodem o país. É contra esse pano de fundo, escreve o jornal, que Dilma inicia uma visita aos Estados Unidos neste sábado (27).

Quem lê fica com a sensação de que o fato de Dilma ser mulher resultou em duas míseras realizações. Numa, madame exigiu que a chamassem de "presidenta". Noutra, ela criou dias atrás a figura da mulher sapiens.

Não foi grande coisa. Mas o brasileiro agora já sabe que, na administração pública, só há dois tipos de gestores: os competentes e os incompetentes. Sabe também que as saliências e as reentrâncias que diferenciam a mulher do homem não interferem no resultado.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Dilma se diz vítima de preconceito. É bobagem! - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


Josias de Souza