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Ministro do Trabalho ofende a inteligência alheia

Josias de Souza

11/07/2015 05h04

Uma coisa é preciso admitir: o ministro Manoel Dias faz na pasta do Trabalho o pior o melhor que pode. Nos primeiros cinco meses de 2015, fecharam-se no Brasil 244 mil postos de trabalho. Um recorde. O pior resultado desde 2002.

Instado a dizer algo, o companheiro Manoel Dias saiu-se com essa: "Nós geramos 23 milhões de empregos [desde 2003]. Não são 200 mil, 300 mil [vagas eliminadas] que significam que estamos vivendo um desastre."

Aplicado no universo das pesquisas de opinião, o raciocínio do ministro resultaria numa conclusão assim: "Em setembro de 2011, o Ibope informou que a taxa de aprovação de Dilma Rousseff era de 71%. Superou Lula (69%) e FHC (57%). Não é o índice de 9% que ela ostenta hoje que significa que seu governo virou um desastre."

Agora, experimente imaginar a seguinte situação hipotética: João das Couves trabalhava como auxiliar de serviços gerais num edifício de São Paulo. Ganhava salário mínimo. Casado, pai de uma menina de 2 anos, levava uma vida dura. Sobrava-lhe mês no fim do salário.

A crise apertou. O que era ruim tornou-se muito pior. O síndico do prédio mandou João das Couves para o olho da rua. Seus afazeres foram absorvidos pelo porteiro do prédio, que, receoso de perder o emprego, executa sem chiar as novas tarefas.

Desempregado há dois meses, João das Couves passou a viver de bicos. Há dias em que não consegue levantar nem o do leite da criança. Se tivesse de comentar sua tragédia, o ministro Manoel Dias diria: "O que é uma reles vaga de auxiliar de serviços gerais perto de 23 milhões de empregos criados entre 2003 e 2014?"

Quem ouve o ministro do Trabalho se convence de que a crise real do Brasil é de semântica, não de escassez de empregos. Antes de discutir se a estagnação da economia está levando a vaca para o brejo será necessário combinar o que é brejo. Ao final do processo, talvez se confirme a tese segundo a qual o grande erro da humanidade é a insensatez não doer. Sobretudo quando ofende a inteligência alheia.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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