Manaus: 34 assassinatos num final de semana
Josias de Souza
20/07/2015 20h19
Aos pouquinhos, o Brasil vai se tornando um país de poucos espantos. Foram assassinados em Manaus no último final de semana 34 brasileiros. Repetindo: mais de três dezenas de patrícios foram passados nas armas na capital amazonense em poucas horas. E a nação não esboça uma reação compatível com o horror da cena. As manchetes não gritam o fato. É como se a violência adquirisse uma persuasiva naturalidade.
Um detalhe torna a chacina ainda mais aterradora: suspeita-se que policiais militares puxaram o gatilho. Por quê? Os corpos tombaram nas pegadas do assassinato de um sargento da PM durante um assalto a banco. As autoridades policiais do Amazonas não descartam a hipótese de vingança. Repetindo: o derramamento de sangue pode ser obra de agentes da lei.
A banalização da violência não é fenômeno novo. Os mortos sem rosto escondem-se em estatísticas que a rotina confinou nos rodapés das páginas de jornal. No fundo, o país enxerga nesse genocídio em conta-gotas um processo de auto-regulação da pobreza. Mas, francamente, tudo tem limite. Num único final de semana, 34 almas foram assassinadas em Manaus!!!
Em abril de 2007, registrou-se na Universidade de Virginia Tech o maior massacre já ocorrido num ambiente escolar nos Estados Unidos. O estudante coreano Cho Seung-Hui matou 32 colegas e professores. Depois, suicidou-se. A notícia sobre os 33 cadáveres ganhou destaque instantâneo no Brasil. Mas o país não faz a concessão de um ponto de exclamação para os 34 assassinados de Manaus.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.