Mensagens de Odebrecht expõem o vale-tudo
Josias de Souza
22/07/2015 05h49
Existe a Odebrecht e existe a "Odebrecht". Existe a maior empreiteira do país e existe tudo o que está implícito quanto se diz "Odebrecht". É uma entidade além dos canteiros de obras. É o poder sem trono, que usa o Brasil como laboratório dos seus excessos.
A "Odebrecht" está furiosa com a divulgação das mensagens que a Polícia Federal fisgou no celular do seu presidente, Marcelo Odecrecht. Acha que foi um desserviço. Algo que apenas confunde a opinião pública com interpretações distorcidas e descontextualizadas.
Os textos revelam a inquietação do mandachuva da Odebrecht com a Lava Jato. Neles, encontram-se preciosidades como a referência a um Plano B associado às iniciais da operação policial: LJ. Está escrito "trabalhar para parar/anular (dissidentes PF…)".
Sérgio Moro, juiz da Lava Jato, deu prazo para que a empreiteira se explique. Achou "perturbadora" a insinuação de que silvérios da PF seriam usados numa trama para melar a apuração do escândalo que expõe as vísceras da promiscuidade que marca as relações do capital privado com o poder estatal.
O doutor Moro exagera. Apinhadas de referências a políticos e de orientações heterodoxas —"vazar doações de campanha", "asseguraremos a família" e "vamos segurar até o fim"— as mensagens de Marcelo Odebrecht não são perturbadoras nem tranquilizadoras. São apenas dados de um fenômeno.
A Odebrecht conseguiu, por meio do seu presidente preso, a proeza de se dissociar das ações da "Odebrecht", de se manter incólume a si mesma. O que as mensagens do celular do mandarim da Odebrecht informam, com outras palavras, é que a "Odebrecht", espécie de benemérita das campanhas, considera-se indultada pelos serviços prestados à democracia. Seus negócios têm todo o direito de recorrer ao vale-tudo. E seus líderes não devem nada a ninguém. Muito menos explicações.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.