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Dilma pede, mas Temer não volta à articulação

Josias de Souza

02/09/2015 19h04

Em almoço no Palácio da Alvorada, Dilma Rousseff fez um apelo nesta quarta-feira para que Michel Temer se mantivesse à frente da articulação política do governo. O vice-presidente respondeu que não cogita retomar a rotina de reuniões com líderes partidários, para acompanhar a pauta de votações do Congresso. Também não deseja voltar à "pequena política" da distribuição de cargos e verbas.

Temer colocou-se à disposição de Dilma para auxiliar o governo naquilo que chama de "macropolítica". Fará isso pontualmente, sempre que acionado pela presidente. Mas deixou bastante claro que não reassumirá as atribuições de articulador, das quais se afastou há dez dias.

O vice-presidente foi à residência oficial da presidente a convite dela. Durante o almoço, Dilma direcionou a conversa para o Orçamento da União de 2016, que o governo acaba de enviar ao Congresso com um rombo de R$ 30,5 bilhões. Coube a Temer a iniciativa de tratar da articulação.

Temer foi direito ao ponto. Disse que gostaria de saber o que Dilma esperava dele, já que ainda não haviam conversado depois de sua saída da articulação política. Sobreveio o apelo. A presidente disse que a ajuda do vice vinha sendo inestimável. Preciso que continue me ajudando, ela afirmou. Temer respondeu que ajudará. Mas não mais como articulador político.

Para Temer, sua passagem pela articulação foi concluída com a aprovação de todas as medidas provisórias e projetos do chamado ajuste fiscal do governo. Ele aproveitou para se queixar. Disse ter sido vítima de muita intriga palaciana. E reiterou que não quer mais fazer parte do roteiro de futricas.

A conversa foi franca. A certa altura Temer afirmou que sua volta à articulação não funcionaria. Queixou-se de não ser informado das decisões do governo. Recordou o episódio da CPMF. Soube pelo noticiário que o governo cogitava recriar o imposto sobre o cheque. Quando Dilma lhe telefonou para informar sobre a novidade, às 16h30 de quinta-feira da semana passada, o vice já havia declarado em entrevista que se tratava de "burburinho."

Temer disse a Dilma que teria poupado o governo do desgaste, desaconselhando a opção pela CPMF. Acha que ajudou a evitar o pior ao sugerir que o projeto de lei de Orçamento de 2016 fosse enviado ao Congresso sem a CPMF. Para Temer, a derrota do governo seria incontornável.

Dilma informou a Temer que fará uma reunião no domingo, para discutir com os ministros econômicos saídas para cobrir o rombo de R$ 30,5 bilhões do Orçamento de 2016. Pediu a Temer que participe desse encontro. O vice disse estará presente.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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