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Em votação pós-toma-lá, governo exige dá-cá

Josias de Souza

06/10/2015 04h07

Depois de encostar seu governo no balcão, flexionando a espinha, a empáfia e a alma, Dilma Rousseff enfrentará nesta terça-feira um teste de plenário. Em sessão conjunta do Congresso, marcada para 11h30, deputados e senadores examinarão um lote de vetos presidenciais. Tendo se rendido sem ressalvas ao toma-lá, Dilma espera dos aliados a contrapartida de um vigoroso dá-cá. Qualquer resultado que não seja a manutenção dos vetos irá às manchetes como um vexame.

Numa tentativa de escapar do fiasco, o ministro Ricardo Berzoini, novo articulador político do Planalto, reuniu-se na noite desta segunda-feira com os líderes da coligação governista. Em conversa com o blog, um dos participantes do encontro disse que há grande preocupação com a hipótese de faltar quórum. Os comandantes das bancadas foram incumbidos de arrastar seus liderados até o plenário. Respirava-se na noite passada uma atmosfera de medo.

Em condições normais, a ausência de quórum seria um mal menor. Nas circunstâncias atuais, a imagem do plenário esvaziado sinalizaria que Dilma chafurdou no fisiologismo por nada. A insegurança do Planalto na noite da véspera é reveladora da fragilidade do arranjo partidário que Dilma chama de coalizão. Atenta à angústia do governo, a oposição tramava desmobilizar-se. Os rivais do governo entendem que a obtenção do quórum é uma obrigação do governo.

Constam da pauta vetos cuja manutenção o governo considera vital. Entre eles o que brecou o reajuste para os servidores do Judiciário. Coisa de 53% a 78,5%, ao custo de R$ 36,2 bilhões em cinco anos. Há também o veto de Dilma ao projeto que estendeu a todos os aposentados do INSS o reajuste do salário mínimo. Derrubado, custaria ao Tesouro algo como R$ 11 bilhões até 2019.

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que manobrou na semana passada para impedir que a apreciação dos vetos ocorresse, disse que não criará empecilhos nesta terça. Mas passou o dia antevendo dificuldades para a obtenção do quórum. No Planalto, suspeita-se que Cunha esteja operando nos subterrâneos para desestimular a presença dos seus devotos no baixo clero da Câmara.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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