Delator complica Cunha e cita Lula na Lava Jato
Josias de Souza
15/10/2015 21h50
Em depoimentos prestados à Polícia Federal e à Procuradoria-Geral da República na condição de delator premiado, Fernando Baiano, apontado como operador do PMDB nos desvios da Petrobras, complicou a situação de Eduardo Cunha e citou Lula. Os dados foram divulgados na noite desta quinta-feira pelo 'Jornal Nacional'.
Já se sabia que Cunha fora acusado de receber US$ 5 milhões de propina em contratos para a fabricação de navios-sonda da Petrobras. Baiano confirmou essa denúncia, feita por outro delator, o consultor Júlio Camargo. E detalhou como o pagamento foi feito. Contou que uma parte foi repassada a Cunha em dinheiro vivo.
Baiano contou que ele próprio se encarregou de levar entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão ao escritório de Cunha, no Rio. Deu-se em outubro de 2011. O dinheiro foi entregue a uma pessoa chamada Altair.
O delator disse também nos depoimentos que dispunha de um celular utilizado exclusivamente para conversar com determinadas pessoas sobre propinas. Entre essas pessoas estava Eduardo Cunha.
Segundo Baiano, o atual presidente da Câmara tratava diretamente com ele dos negócios ilícitos. Chegou mesmo a enviar e-mail com tabela especificando o que já havia sido pago e os valores pendentes. Baiano informou que apresentará provas.
Noutro depoimento, ocorrido no mês passado, Baiano citou Lula. Relatou que operava para que a empresa OSX participasse de negócios da Sete Brasil com a Petrobras. Os contratos tinham relação com a exploração do óleo do pré-sal.
Durante a negociação, disse Baiano aos investigadores, ele pediu ajuda ao advogado José Carlos Bumlai, amigo de Lula. Segundo Baiano, o próprio Lula participou de reuniões com a Sete Brasil, para defender que a OSX fosse incluída no negócio.
As negociações não prosperaram. Ainda assim, José Carlos Bumlai cobrou uma comissão. Coisa de R$ 3 milhões. Segundo Baiano, o amigo de Lula disse que o dinheiro seria repassado a uma nora de Lula, para que ela liquidasse uma dívida referente à parcela de um imóvel.
Baiano afirmou ter repassado a Bumlai R$ 2 milhões. Fez isso por meio de contratos frios de aluguel de equipamentos de uma empresa do amigo de Lula.
Procurado, Lula disse que jamais atuou como intermediário de emrpesas. E que nunca autorizou José Calros Bumlai a usar o seu nome em qualquer tipo de lobby. De resto, o ex-presidente declarou que nenhuma de suas quatro noras recebeu dinheiro de Fernando Baiano.
Ouvido, Cunha também negou as acusações de Baiano. Voltou a reclamar do que chama de "vazamento seletivo" de informações que deveriam ser mantidas em sigilo.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.