Cunha já conseguiu adiar sua defesa para 2016
Josias de Souza
09/12/2015 04h57
De manobra em manobra, a infataria de Eduardo Cunha no Conselho de Ética da Câmara já conseguiu empurrar para dentro do calendário de 2016 o desfecho do processo sobre a cassação do seu mandato. Ainda que seja aprovado o parecer que pede a continuidade das investigações contra Cunha, já não há mais tempo nem mesmo para exigir do acusado que apresente sua defesa antes do fim de 2015.
Nesta terça-feira, o Conselho de Ética adiou pela quinta vez a votação que contraria Cunha. O colegiado reúne-se novamente nesta quarta-feira. Supondo que conseguisse transpor a barreira protelatória da tropa de Cunha, o Conselho de Ética teria de abrir prazo de dez dias úteis para a apresentação da defesa do deputado. E só há mais seis dias úteis disponíveis até o início do recesso parlamentar, marcado para 17 de dezembro.
"Quando começar o recesso, teremos de interromper a contagem do prazo", disse ao blog o presidente do Conselho de Ética, deputado José Carlos Araújo (PSD-BA). "O prazo só volta a ser contado a partir de 2 de fevereiro de 2016." Em privado, Cunha celebra o êxito parcial de sua estratégia enquanto planeja com sua milícia parlamentar as próximas manobras protelatórias.
O repórter perguntou ao presidente do Conselho de Ética por que ele não ganha tempo marcando as sessões do colegiado para o período da manhã, já que é obrigado a encerrar os trabalhos sempre que Cunha abre a "Ordem do Dia" no plenário. E ele: "Não faço isso porque não há nenhum plenário disponível. Estão todos ocupados pelas comissões permanentes da Câmara." Cunha desmente Araújo. Afirma que há, sim, espaço disponível na Câmara pela manhã.
Quer dizer: o Conselho de Ética não tem razões para reclamar do cinismo de Eduardo Cunha. Quando alguém faz de bobos os membros de um grupo de parlamentares experientes é porque encontrou material. A sessão desta quarta-feira começa às 13h30.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
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