Preso, Delcídio continua sendo ‘líder’ de Dilma
Josias de Souza
06/02/2016 02h51
Preso há dois meses e 12 dias por ordem do Supremo Tribunal Federal, Delcídio Amaral continua sendo o líder do governo Dilma Rousseff no Senado. A presidente não indicou um substituto. Tampouco preocupou-se em formalizar a destituição do encarcerado. Nos registros internos e no site do Senado, Delcídio ainda ocupa o posto de líder do conglomerado governista.
A demora de Dilma em escolher um substituto para Delcídio já lhe rende críticas. "Em política, não convém confiar em ninguém com mais de 30", ironiza em privado um senador do PDT. "Não convém confiar sobretudo em alguém com mais de 30 dias de cadeia." Outro senador, do PT, o partido que ensaia a expulsão de Delcídio, afirma que a omissão de Dilma "ofende" os integrantes do bloco governista. "É como se não houvesse nenhum senador merecedor da confiança do Planalto", explica.
Delcídio tornou-se sócio-atleta da Operação Lava Jato graças à gravação de uma conversa que manteve com Bernardo Cerveró, filho do petrodelator Nestor Cerveró. A fita registra uma conversa vadia. Para comprar o silêncio de Cerveró, Delcídio informa ao filho do ex-diretor da Petrobras que tinha acesso a quatro ministros do STF —com a ajuda do "Michel" e do "Renan".
Não é só na liderança do governo que a ausência de Delcídio é premiada. O preso continua recebendo salário mensal de R$ 33,7 mil. Embora sua morada provisória se localize atrás das grades, o senador recebe também o auxílio-moradia. Coisa de R$ 5,5 mil mensais. De resto, o gabinete do detento tornou-se uma superestrutura pendurada no bolso do contribuinte. Os 14 assessores de Delcídio custam ao Tesouro algo como R$ 300 mil por mês.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.