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Depois do ‘não sabia’, desponta o ‘nada a ver’

Josias de Souza

22/02/2016 19h47

A campanha de Dilma Rousseff não tem nada a ver com os depósitos feitos por baixo da mesa em contas do marqueteiro João Santano no exterior, como não teve nada a ver com as doações eleitorais que empreiteiras fizeram com dinheiro roubado da Petrobras.

Hoje, as suspeitas são reforçadas por um inédito volume de evidências documentais, incluindo uma carta da mulher de Santana, Mônica Moura, dirigida a um operador de petropropinas, e uma mensagem em que Marcelo Odecrecht recorda a um executivo de sua construtora que o melado escorreria até "a campanha dela." Anteontem, Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, dissera que borrifou R$ 7,5 milhões no comitê reeleitoral. Mas a campanha de Dilma não tem nada a ver com isso.

Depois que a ordem de prisão do primeiro-casal do marketing escalou as manchetes, Dilma reuniu-se com os ministros que lhe são mais próximos. Em declarações vazadas pelo Planalto, a presidente se disse "tranquila". Heim?!?!? "Não tem nada a ver com a minha campanha". Hã, hã…

O presidente do PT, Rui Falcão, informa que o partido também não tem nada a ver com os depósitos clandestinos em favor de João Santana, como não teve nada a ver com a conversão de verbas subtraídas dos cofres da Petrobras em doações registradas na Justiça Eleitoral como se fossem limpinhas. Hoje, a Polícia Federal realça que Santana fez fortuna tocando campanhas do PT. Anteontem, o tesoureiro petista João Vaccari Neto descera até o xadrez por receber pixulecos em nome do partido. Mas o PT não tem nada a ver com isso.

Já meio cansado da tese do "eu não sabia", o brasileiro precisa acreditar que o comitê eleitoral de Dilma e o PT não têm nada a ver com os pagamentos suspeitos porque a tese é muito coerente. Dilma, Rui Falcão e todos os petistas graduados deveriam mandar tatuar na testa a expressão "nada a ver". Isso os pouparia de falar e desobrigaria os repórteres de perguntar. Ora, personagens que não tiveram nada a ver com nada durante 13 anos, por que teriam agora?

Há um único problema: se a Lava Jato já provou alguma coisa, foi que, no Brasil dirigido pelo petismo com o auxílio dos seus cleptoaliados, 'nada' é uma palavra que ultrapassa tudo.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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