PT ataca Dilma por ruína que ajudou a produzir
Josias de Souza
27/02/2016 05h40
Tornou-se muito fácil identificar um petista numa roda de políticos. Ele será sempre o que estiver falando mal de Dilma com maior estridência. Reunido no Rio de Janeiro, o diretório nacional do PT caprichou no oportunismo. Criticou duramente a ruína em que se encontra assentada a administração Dilma. E pregou a ressurreição da política econômica de Lula. Esqueceu dois detalhes: 1) foi Lula quem tirou a gênia da garrafa. É um pouco tarde para obrigá-la a entrar de novo; 2) o PT ajudou a produzir os escombros. O partido fez o pior o melhor que pôde.
O petismo tem saudades da era Lula porque foi no reinado dele que o PT tornou-se uma máquina coletora de dinheiro público. Foi uma fase em que o velho lema do 'rouba mas faz', piscando num letreiro invisível ao fundo, fornecia a imunidade preventiva para um sistema de conveniências em que o suposto proveito substituía a ética. Hoje, a roubalheira exposta pela Lava Jato fulminou a ética. E a estagflação fez sumir a falsa noção de proveito.
É nesse contexto que o PT traz à luz o seu Plano Nacional de Emergência, um programa econômico desconectado da realidade. Aprovado sob aplausos generalizados, o texto sugere que os juros sejam reduzidos na marra, propõe o escancaramento das arcas já faliadas e prega o uso das reservas cambiais para financiar obras públicas.
Desde que abandonou a noção de responsabilidade fiscal, Dilma vem tocando as coisas na base do vai ou racha. O PT informa que, neste ano de eleições municipais, a coisa terá que ir mesmo rachada. Com o apoio de Lula, o partido critica o ajuste fiscal que não deixou Joaquim Levy executar. E ignora que Lula inaugurou o seu reinado, em 2003, produzindo superávits de caixa de dar inveja nos liberais tucanos. Coisas do passado.
Hoje, reduzido à condição de organização partidária com fins lucrativos, o Partido dos Trabalhadores, 100% financiado pelo déficit público, virou a principal evidência de que o poder longevo pode levar qualquer agremiação a atingir a perfeição da ineficiência impudente. Com os ideais dissolvidos em corrupção, o PT dedica-se a desfazer o que ele mesmo fez. É um caso raro de autodissolução.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.