PT submete Dilma a impeachment companheiro
Josias de Souza
11/03/2016 04h36
Dilma Rousseff não só acredita em vida depois da morte como crê que é esta que ela está vivendo. Suposta presidente da República, Dilma já não tem capacidade nem para projetar as aparências do poder. Para evitar que outras forças políticas dêem um golpe, o PT decidiu implementar um impeachment companheiro. Articula a conversão de Dilma em ex-presidente ainda no exercício da Presidência. Só falta decidir o que o partido fará com o vácuo que herdará de si mesmo.
Lula passará o final de semana refletindo sobre a conveniência de assumir um ministério sob Dilma, informou Rui Falcão, presidente do PT, ao discursar na noite desta quinta-feira para uma plateia de cerca de 300 militantes de movimentos sociais. Lula não está interessado no escudo do foro privilegiado, assegurou Falcão. Não, não. Absolutamente. A ideia é que ele vá à Esplanada para "salvar o nosso projeto." Bom, muito bom. Pode criar algo inteiramente novo. Caos não falta.
Na saída do evento, Falcão afirmou que a decisão de Lula pode sair no próprio final de semana ou demorar mais alguns dias. "Essa é uma decisão dele. Lula está tranquilo e sereno." Noutros tempos, a escolha de ministros era decisão exclusiva de presidentes. Mas Dilma não se importará se Lula decidir se autonomear. Ela o deixou à vontade para escolher a pasta. O PT quer vê-lo na Casa Civil. Funciona no 4º andar do Planalto, em sala que fica imediatamente acima do gabinete presidencial, situado no 3º piso.
Não é difícil imaginar a cena: na antessala do neo-ministro, congressistas e empresários se acotovelando por uma audiência. Na sala de espera da pseudo-presidente, o silêncio do vazio. No interior do gabinete, o nada. Inútil tentar alcançar Dilma com os olhos. O olhar atravessa o nada e vai bater no couro do espaldar da poltrona. Lula queria um sucessor invisível, que não lhe fizesse sombra. Exagerou!
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.