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PT pressiona Lula para virar um tutor de Dilma

Josias de Souza

14/03/2016 05h44

Sob o impacto da maior manifestação de rua da história do país, cresceu nas últimas horas a pressão do PT para que Lula ocupe um ministério no que restou do governo de Dilma Rousseff. Disseminou-se na cúpula do partido o entendimento segundo o qual a presença de Lula no primeiro escalão pode ser a única cartada capaz de deter o avanço do impeachment. Deseja-se que o criador de Dilma atue como uma espécie de tutor de sua criatura, articulando uma reação.

Desde que a plataforma eleitoral de Dilma se converteu em estelionato político, já nos primeiros meses depois do início do segundo mandato, o país esperava pelo sinal de que o fim estivesse próximo. Os protestos deste domingo justificaram o uso do ponto de exclamação que costuma soar quando as pessoas dizem "tudo tem limite!" O asfalto emitiu um sinal eloquente.

Nesta segunda-feira, 14 de março de 2016, restam 1.021 dias de mandato para Dilma. Foram transformados pelas ruas em epílogo. Longe dos refletores, não se ouve nenhuma voz capaz de apostar uma pataca na permanência de Dilma no cargo por tanto tempo sem um milagre. Para o petismo, o milagre se chama Lula.

Na noite passada, o repórter perguntou a um dos devotos de Lula que mágica ele faria para conseguir superar os mágicos convencionais, tirando uma cartola de dentro do coelho. Eis a resposta: "O Lula é, a essa altura, a única lideranças capaz de virar o governo do avesso, dando a ele um rumo." A afirmação baseia-se num tipo de fé que parece mais cristã do que política. A esse ponto chegou o governo Dilma.

É improvável que Lula, cuja santidade encontra-se sub judice em vários inquéritos, consiga soerguer o governo Dilma. Mas sua conversão em ministro seria um castigo do destino proporcional aos seus pecados. Primeiro porque parte do desgaste de Dilma se deve a ele, já que o petrolão, assim como o mensalão, foi idealizado e implementado na sua gestão. Segundo porque a fábula do talento gerencial de Dilma é de sua autoria.

São três os mecanismos legais que podem ser usados para encurtar o mandato de Dilma: a renúncia, que ela rejeita; a cassação da chapa presidencial pela Justiça Eleitoral, que depende de um processo demorado; e o impeachment, que o eventual desembarque do PMDB pode apressar no Congresso. Nas próximas semanas, não se falará noutra coisa em Brasília.

O epílogo de Dilma pode ser longo ou curto. Por ora, a única certeza é que, com Lula no ministério, o ocaso seria mais divertido. De saída, seria hilário observar a ginástica verbal que o personagem faria para negar que sua nomeação tivesse o objetivo de lhe escondê-lo do juiz Sérgio Moro, atrás do biombo do foro privilegiado.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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