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De tanto recuar, Temer ainda desfritará um ovo

Josias de Souza

22/05/2016 18h34

As grandes hesitações estão a um milímetro da desmoralização. Tome-se o caso da lipoaspiração ministerial idealizada por Michel Temer. No princípio, a Esplanada emagreceria até caber no formato original projetado por Niemeyer. De 32 pastas, sobrariam apenas 20. Pensando bem, digamos, 22. Talvez 24. Não, não. Impossível! Para acomodar todos os partidos, 30 ministérios. Apenas o presidente do Banco Central e o advogado-geral da União perderiam o título de ministro. E não se falaria mais nisso.

Súbito, Temer acordou às vésperas do afastamento de Dilma decidido a retomar o Plano A. Que diabos, o asfalto roncara por mudanças! Não faria sentido alterar o status sem modificar o quo. A lâmina atingiria dez pastas. Ouviram-se aplausos. Em meio ao lufa-lufa da execução, podaram-se apenas nove ministérios. Entre eles o da Cultura, transformado numa secretaria nacional e pendurado no organograma da Educação. Soaram as vaias e os gritos de "golpista". Servidores públicos foram às lanças junto com artistas e congêneres.

Joelhos dobrados, Temer mandou ao Diário Oficial uma retificação. Como prova do seu apreço às artes, injetou no nome da secretaria o vocábulo "especial". Seria a Secretaria Especial Nacional da Cultura. O alarido não cessou. Os prédios públicos continuaram ocupados. No Rio, Caetano Veloso e Erasmo Carlos cantaram pela causa. E Temer sucumbiu.

Será recriado o Ministério da Cultura, decidiu o interino na noite de sexta-feira. No total, serão agora 24 pastas. Mas cogita-se alterar a medida provisória no Congresso, devolvendo o apelido de ministro e o foro especial do STF aos titulares do Banco Central e da advocacia-geral. Seriam, então, 26 ministérios.

A turma da Cultura ainda não se deu por satisfeita. Mais do que a restituição do ministério, artistas e assemelhados querem o pescoço de Temer, que chamam de "golpista". Para aplacar os ânimos, resta ao presidente interino prometer desfritar um ovo em rede nacional. Com trilha sonora de Caetano e Erasmo.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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