Governo gastou cerca de R$ 650 mil com manutenção de Dilma após afastamento
Josias de Souza
11/06/2016 03h39
Dilma Rousseff vive desde o dia 13 de maio uma derrocada dourada. Ela já havia reconhecido que, afastada pelo Senado, seria "carta fora do baralho". Mas, enquanto aguarda o veredicto final dos senadores no julgamento do impeachment, permanece no Palácio da Alvorada, às expensas dos contribuintes. Fechada a contabilidade de maio, o governo gastou com Dilma cerca de R$ 650,7 mil. Os dados obtidos pelo blog são oficiais. Podem ser conferidos no quadro que ilustra esse post. Procurada por meio de sua assessoria, Dilma não quis fazer comentários sobre o tema.
O custo mais alto refere-se à folha salarial: R$ 446.441,09. Dilma fez jus ao contracheque integral: R$ 38.049,68. A cifra superou o teto do funcionalismo, medido pelo salário dos ministros do STF, hoje fixado em R$ 33.700. A remuneração do staff que Dilma recrutou para assessorá-la custou em maio R$ 312.536,48. A soma inclui encargos, comissões e gratificações. Outros R$ 95.854,93 foram pagos à equipe que dá prontidão médico no Alvorada.
Excluíram-se da conta as mais de cem pessoas que asseguram ao palácio presidencial uma hospedagem cinco estrelas: cozinheiros, garçons, arrumadeiras, seguranças e um infindável etcétera. Ainda assim, o Planalto, agora sob nova direção, cogita forçar uma redução das despesas com a assessoria direta de Dilma. Alega-se que é preciso reforçar a equipe do presidente interino Michel Temer.
O segundo item mais oneroso foi a conta das viagens de Dilma. Noves fora as despesas com os aviões da FAB, usados por Dilma, as equipes que viajaram antes para preparar os três deslocamentos realizados entre os dias 13 e 30 de maio sorveram R$ 113.100,59 em passagens aéreas e diárias. O Planalto achou um exagero, já que Dilma não cumpre mais agendas oficiais como presidente. E decidiu impor limites às viagens dela.
Há uma semana, escorando-se em parecer da assessoria jurídica da Casa Civil, o Planalto restringiu as viagens da presidente afastada nas asas da FAB aos voos entre Brasília e Porto Alegre, cidade que Dilma adotou para viver e onde moram sua filha e seus dois netos. Dilma estava na capital gaúcha quando soube da novidade. Subiu no caixote: "Houve uma decisão da Casa Civil ilegítima, cujo objetivo é proibir que eu viaje", disse. Ameaçou viajar em aviões de carreira. Acabou se entendendo com o PT, que fretará jatos para suas viagens.
No período entre os dias 13 e 31 de maio, foram lançadas nos cartões de pagamento do Alvorada despesas de R$ 81.675,49. O grosso foi destinado à compra de alimentos e produtos para copa e cozinha: R$ 62.112,69. O resto pagou da manutenção dos automóveis à aquisição de produtos de limpeza e higiene. De resto, as contas de telefones celulares, atualizadas até o dia 6 de junho, custaram R$ 4.598,16. A de internet, fechada em 8 de junho, saiu por R$ 4.893,00.
o prazo para que Dilma seja julgada pelo Senado é de até seis meses. Mas estima-se que a votação ocorrerá em meados de agosto. São pequenas as chances de um retorno.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.