Fracassa tentativa do governo de votar renegociação de dívidas estaduais
Josias de Souza
03/08/2016 04h42
Michel Temer e seus operadores haviam planejado uma semana triunfante na Câmara. O governo exibiria sua musculatura parlamentar aprovando, já na primeira semana após o recesso do Legislativo, a proposta de renegociação das dívidas dos Estados com a União. Deu tudo errado. Marcou-se para terça-feira da semana que vem uma nova tentativa de votar o projeto.
A semana começara com um café da manhã servido por Temer aos líderes partidários da Câmara. Nesse encontro, o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) teve de fazer mais concessões do que gostaria ao espírito perdulário dos aliados do governo. A despeito disso, após dois dias de reuniões, o Planalto não conseguiu transformar sua suposta maioria em votos.
Registraram presença na Câmara cerca de 400 deputados. Para prevalecer no plenário, o governo precisava de 257 votos. Esbarrou sobretudo na resistência de sua infantaria em aceitar os limites que o projeto impõe aos reajustes salariais de servidores das administrações estaduais.
De tanto ceder, Temer ensinou uma lição aos parlamentares governistas. Eles aprenderam que, no atual governo, quem recorre à ameaça não perde por esperar. Ganha sempre. Há, de resto, um cheiro de Centrão na derrota do governo. Vencido por Rodrigo Maia (DEM-RJ) na disputa pela presidência da Câmara, o grupo parece interessado em mostrar com quantos ressentimentos se faz uma vingança.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.