‘Apoio do PSDB depende de Temer’, diz Aécio
Josias de Souza
23/08/2016 21h00
Presidente do PSDB, Aécio Neves espantou-se com o apoio manifestado nesta terça-feira pelo PDMB do Senado aos projetos que elevam os salários dos ministros do STF, do Ministério Público Federal e da Defensoria Pública da União. Em jantar que tiveram há menos de uma semana com Temer, os tucanos haviam entendido que o governo passaria priorizar o ajuste fiscal em detrimento dos interesses de corporações.
"O PSDB quer continuar apoiando o governo, mas esse apoio depende do presidente Michel", disse Aécio em conversa com o blog. "Acredito que o presidente saiba, até por sua experiência, que não há mais tempo para sinais ambíguos. Hoje, infelizmente, tivemos a reedição daquilo que nós achávamos superado. A minha expectativa é que, após receber a Presidência da República definitivamente, o Michel consiga liderar sua base de apoio na direção da saída do abismo. É o que esperamos. Todo o resto dependerá disso."
O tucanato ergue barricadas no Senado contra os reajustes salarial. Nesta terça-feira (23), o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) apresentou na Comissão de Assuntos Ecpnômicos relatório recomendando a rejeição do projeto que eleva para E$ 39,2 mil o salário dos ministros do Supremo, que incide em cascata sobre os contracheques do resto do Judiciário e serve de teto para toda a administração pública.
Na mesma sessão, o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) leu um relatório alternativo, favorável ao aumento. Sob divergência, a votação foi adiada. Antes, uma votação simbólica aprovou o reajuste dos defensores públicos, que custará ao Tesouro R$ 119,8 milhões até 2018. Quanto ao resto, a posição do partido de Temer é clara. Líder do PMDB, Eunício Oliveira (CE) é articulador e primeiro signatário de um pedido de urgência para a tramitação dos reajustes do STF e do Ministério Público Federal.
"Estou muito preocupado", declarou Aécio. "Nossos alertas são o que eu chmaria de grito mais eloquente em favor do governo. Mas não temos sido ouvidos." Aécio diz ser "primário" o entendimento daqueles que enxergam 2018 por trás da movimentação do PSDB.
"Quando condicionamos o nosso apoio a um conjunto de reformas, estamos dando ao governo uma ajuda que o PMDB, partido do presidente, não dá. O próprio presidente e o ministro da Fazenda [Henrique Meirelles] deveriam compreender isso."
Acha que eles não compreendem? "O Michel Temer disse que compreende. O Henrique Meirelles eu não sei. O certo é que estamosnos esforçando para dar uma contribuição para que o governo dê certo. Não há outra forma de dar certo senão promovendo o equilíbrio das contas públicas. Isso é pré-condição para retomar o emprego, o crescimento do país. Não tem mágica nisso. Nossa conversa com o Michel foi de absoluta lealdade com o Brasil. Não está em questão 2018. Se o governo der certo, seremos sócios desse sucesso. Lá na frente, cada um vê o que vai fazer."
Aécio reuniu-se nesta terça com a bancada federal do PSDB. "Todos me deram delegação para deixar claro qual é a posição da bancada: apoiamos o ajuste, não um projeto eleitoral do PMDB. Mais uma vez, tivemos hoje um sinal trocado. Isso acaba gerando muita insegurança."
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.