Ao revogar prisão de Mantega Moro deixa petismo completamente sem argumento
Josias de Souza
22/09/2016 13h23
Ao revogar a ordem de prisão de Guido Mantega, Sérgio Moro deixou o petismo sem assunto. Desde cedo, o PT e seus devotos jogam pedras na Lava Jato por ter prendido o ex-ministro no hospital, privando-o de acompanhar uma cirurgia da mulher gravemente adoentada. Ao reacomodar Mantega na beirada da cama de sua companheira, Moro convida o PT a falar sério.
Em vez de tocar trombone embaixo do seu imenso telhado de vidro, o PT terá de arranjar meia dúzia de desculpas para o fato de o ex-ministro da Fazenda de Lula e Dilma ter sido pilhado no papel de cupido das boas relações do partido com o empresariado provedor de verbas sujas. O PT continua com o trombone. Mas talvez lhe falte sopro para a nova fase do espetáculo, inaugurada por Moro.
Em seu despacho revogatório, o juiz da Lava Jato anotou que ele, a Procuradoria e a Polícia Federal desconheciam que "o ex-ministro acompanhava o cônjuge acometido de doença grave em cirurgia." Esclareceu ter sido informado pela Polícia Federal de que a prisão foi praticada "com toda a discrição, sem ingresso interno no hospital." E revogou a ordem, sem prejuízo da busca já realizada no apartamento de Mantega e de providências posteriores.
Rui Falcão, presidente do PT, qualificara a prisão de Mantega de "uma desumanidade inaceitável." O companheiro dissera estar "revoltado" com os métodos da Lava Jato, realçando o "estilo de arbitrariedade e violação de direito". Coisa "insuportável". Num instante em que o PT mirava sua canela, Moro informou que prefere o jogo de xadrez ao futebol de várzea.
O magistrado sinalizou, de resto, que está dois ou três lances à frente dos seus detratores. Ao despir-se do figurino de monstro que o PT tenta lhe impor, Moro transforma Mantega em candidato a delator. Um delator especial, que pode acomodar a Lava Jato definitivamente no colo de Dilma Rousseff.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.