Faltou despertador à tática política do governo
Josias de Souza
07/10/2016 19h10
Na noite de quinta, Geddel foi ao encontro do tavesseiro certo de que, na manhã seguinte, a Câmara realizaria a primeira das duas sessões de debate que antecedem a votação da emenda constitucional que congela os gastos federais por 20 anos. A dúvida é a antessala da insônia. Mas Geddel dispunha da certeza, que vale por um barbitúrico.
Por mal dos pecados, deu tudo errado. Para cumprir a tabela dos prazos, o governo precisaria colocar em plenário nesta sexta-feira 51 deputados. O Planalto mobilizara sete dezenas de aliados. Ainda assim, a sessão caiu por falta de quórum. A exemplo da turma do movimento 'Fora, Temer', a infantaria de Geddel dormiu demais.
Agora, se quiser manter o plano de votar até terça-feira o primeiro turno da emenda do teto de gastos, o governo terá de aprovar um requerimento suprimindo do processo de votação as sessões de debate. Não é impossível, sobretudo se a tropa governista armar-se de despertadores. Mas introduziu-se desnecessariamente na cena um ruído que servirá de matéria-prima para que a oposição mantenha a encrenca na Justiça.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.