Cúmplice, o PT silencia sobre Cunha e Geddel
Josias de Souza
16/01/2017 04h57
Um dirigente do PT tocou o telefone para parlamentares do partido, no final de semana, para sugerir o uso das revelações mais recentes da Lava Jato como munição na guerra política contra "o governo golpista" de Michel Temer. Classificou de "bombástica" a acusação de que Eduardo Cunha e Geddel Vieira Lima, íntimos de Temer, trocavam empréstimos da Caixa Econômica por propina. Um dos destinatários da sugestão indagou: "A farra ocorreu na gestão da Dilma, esqueceu?"
Os petistas sentem um prazer quase orgástico cada vez que a Polícia Federal e a Procuradoria penduram um amigo de Temer nas manchetes de ponta-cabeça. Mas a maioria silencia para não passar a vergonha de ter de explicar por que os inimigos de hoje plantaram bananeira dentro dos cofres públicos durante os governos do PT. A Lava Jato tornou a corrupção um fenômeno tão abrangente que a ética virou um valor órfão na política.
Nunca um escândalo teve tantos cúmplices. Considerando-se tudo o que os investigadores já jogaram no ventilador, a desfaçatez foi generalizada. Tudo muito deplorável. Mas quase ninguém no universo da política pode dizer isso sem ruborizar a face. Não há mais inocentes em Brasília, só comparsas.
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.