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Brejo econômico do Brasil é um tormento órfão

Josias de Souza

07/03/2017 16h05

A economia brasileira vive um pântano histórico. Despencou 3,6% em 2016, depois de um tombo de 3,8% em 2015. É a pior recessão desde 1948, quando o IBGE começou a medir o PIB (clique sobre a imagem acima para ver a evolução dos números). De quem é a culpa por esse descalabro jamais visto em quase sete décadas? Aí é que mora o inusitado. O brejo nacional é um tormento órfão. Os pais da ruína se comportam como se viajassem num avião sabendo que sua bagagem, com todas as culpas que acumularam, viaja em outro.

A decadência econômica do Brasil é o resultado de uma combinação de corrupção desenfreada com inépcia gerencial. O mensalão e o petrolão nasceram nas administrações de Lula. Deve-se ao pajé do petismo também a narrativa fantiosa que fez de Dilma Rousseff uma supergerente infalível. Mas Lula, alheio a tudo, apresenta-se como alternativa presidencial para 2018.

Vítima da superstição segundo a qual seria uma executiva impecável, Dilma comandou um governo desplugado da realidade. Depois de arrastar a economia para a beira do abismo no primeiro mandato, obteve a reeleição repetindo na propaganda eleitoral uma fábula escrita pelo marqueteiro João Santana. Nela, a crise era internacional e seus reflexos sobre o Brasil seriam superados rapidamente, já que "nós temos um projeto".

Hoje, o marketing do PT é caso de polícia e Dilma faz pose de vítima de um "golpe". Culpa os "golpistas" pela crise. Quando Marcelo Odebrecht afirma que ela sabia do dinheiro sujo que pagou João Santana e financiou a reeleição, madame corre às redes sociais para chamá-lo de mentiroso. Mas reage à corrosão do PIB com o silêncio dos inocentes. Além de se auto-isentar de culpas, ameaça o país com uma candidatura ao Senado ou à Câmara.

Michel Temer preside a "herança maldita" fingindo desconhecer que o seu PMDB é sócio da pilhagem que injetou insegurança política dentro do descalabro econômico. Temer empurra com a barriga o julgamento que pode lhe custar o mandato no Tribunal Superior Eleitoral. E promete transformar o Brasil numa nova Pasárgada, melhor que a do poeta Manoel Bandeira.

Os auxiliares suspeitos e os aliados investigados de Temer dispensam os outros atrativos dessa neo-Pasárgada. Não querem nem a mulher desejada na cama escolhida. Interessa-lhes apenas a consideração do Rei. É a amizade com o soberano que propicia a influência que abre as portas dos cofres do governo, qualquer governo.

Você, que não dispõe de amigos na Corte brasiliense, continuará vivendo no Brasil do desemprego e dos serviços públicos de quinta categoria. Mas fique calmo, o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) informa que a recessão é página virada. Ela só existe "no retrovisor". E na bagagem do avião da história. Uma aeronave que aterrissou no brejo sozinha, sem piloto.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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