Carta do impensável entrou no baralho de 2018
Josias de Souza
13/04/2017 04h29
Os principais presidenciáveis brasileiros se fingem de vivos. Mas tornaram-se vivos tão pouco confiáveis que a conjuntura começa a lhes enviar coroas de flores. A colaboração da Odebrecht joga a última pá de cal sobre as pretensões políticas de cada um. Ao entrar em sua fase radioativa, a Lava Jato corroeu o que restava da oligarquia política. E incluiu o impensável no baralho de 2018.
No cenário atual, para virar um presidenciável favorito basta adotar um discurso raivoso contra a classe política, declarar guerra à corrupção e prometer virar do avesso tudo isso que está aí. O Brasil já elegeu dois presidentes que engarrafavam oportunismo: Jânio Quadros e Fernando Collor. O primeiro renunciou e morreu sem deixar saudades. O outro foi renunciado e continua subtraindo a prataria.
A Odebrecht gravou a sua logomarca nas testas de Lula, Aécio Neves, Geraldo Alckmin e José Serra. Estão mais para réus do que para candidatos. Desfilam de cara limpa na praça Ciro Gomes e Marina Silva. Um fala demais. Outra fala de menos. Roçam o alambrado Jair Bolsonaro e João Dória. Um, por absurdo, é ponto de exclamação. Outro, por imprevisível, é interrogação.
A política flerta com o desastre. E é plenamente correspondida. Conforme já noticiado aqui, PSDB, PMDB e PT rodam uma reencenação sui generis de 'Os Três Mosqueteiros'. Sob o lema de 'um por todos, todos por um', os maiores partidos do país comportam-se como se fossem capazes de matar ou morrer por uma saída que não enxergam.
Submetido à chapa quente de Curitiba, Lula estende a mão no subsolo para Fernando Henrique Cardoso. Que hesita em corresponder ao gesto com receio de ganhar as manchetes como participante de um conciliábulo anti-Lava Jato. Michel Temer acompanha os movimentos sonhando com um acordo que livre o seu mandato-tampão de um processo de sarneyzação.
Todos gostariam de preparar o salão para a sucessão de 2018. O problema é que já não parece possível reiniciar um novo baile sem terminar a faxina da fuzarca anterior. A esse ponto chegou a República. A colaboração da Odebrecht resultou na mudança do regime. Inaugurou-se uma espécie de monarquia do lodo. Reina a estupefação!
Sobre o autor
Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.
Sobre o blog
A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.