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Primeiro embate de 2018 opõe Alckmin e Doria

Josias de Souza

17/05/2017 06h55

Quando Geraldo Alckmin disse em Nova York, nesta terça-feira, que "ninguém vai conseguir fazer eu e o João Doria nos distanciarmos", sabia que estava dançando a coreografia da enganação. Mas não imaginava que, horas depois, o pupilo e companheiro de viagem admitiria pela primeira vez em entrevista disputar a Presidência da República: 'Respeitando a democracia, por que não?'

Dizer que Alckmin e Doria flertam com um rompimento precoce é pouco. Os dois passaram a medir forças por uma poltrona na qual só cabe uma pessoa. Engolfado pela onda da Lava Jato, o sonho de Alckmin de tornar-se o candidato do PSDB à sucessão presidencial de 2018 está sob contestação. E Doria já não consegue disfarçar sua condição de pretendente ao trono.

Alckmin andava magoado com Doria. A mágoa deu lugar à irritação. A queixa do governador de São Paulo está no que chama de "deslealdade" do prefeito. Considerando-se responsável pela ascensão de Doria, Alckmin esperava que o pupilo ajudasse a carregar o andor de sua candidatura presidencial. Sobretudo depois que delatores da Odebrecht amarraram um nó no pescoço do "santo" das planilhas da construtora. Doria, porém, dedica-se a puxar a corda.

Um apologista do projeto presidencial de Alckmin lhe disse que Doria, mais bem-posto nas pesquisas, joga com a desistência do padrinho. O governador respondeu que não está morto. E foi convencido de que precisa demonstrar que respira, pois às vezes se comporta como um vivo tão pouco militante que seu Doria acha que pode lhe enviar uma coroa de flores.

O assanhamento de Doria arrancou Alckmin de sua letargia. Há algumas semanas, quando lhe perguntavam sobre sucessão presidencial, Alckmin limitava-se a defender a realização de prévias no PSDB. No mais, quando os repórteres o espremiam para saber se seria candidato, repetia um mantra que aprendeu com Mario Covas: "Neste ano não tem eleição. Estamos em ano ímpar e eleição é em ano par." Em Nova York, mudou o rumo da prosa: "Estou preparado."

Em eventos distintos, Doria e Alckmin falaram línguas diferentes expressando-se no mesmo idioma. O prefeito repetiu o lero-lero segundo o qual não é político, mas gestor. E seu padrinho: "Me preocupa, muitas vezes, relegar a política ao plano secundário, porque ela é a atividade essencial."

Alckmin ouviu de um correligionário um raciocínio que resume o seu drama: "Nessa história, o gestor é o senhor, governador. Ninguém é mais político do que o Doria." O embate que eletrifica o ninho do tucanato tornou-se a primeira disputa real da sucessão presidencial de 2018. Nela, Doria procura não parecer o que é, porque Alckmin, dependendo da Lava Jato, pode não ser o que parece. Até que alguém possa ser e parecer, um continuará puxando o tapete do outro.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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