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Temer falará à PF como presidente ou suspeito?

Josias de Souza

05/06/2017 19h58

O que assusta no tsunami político-policial que engolfa Michel Temer é a rapidez com que seu governo vai virando destroço. Há duas semanas, Temer guerreava pelas reformas modernizantes. Nesta segunda-feira, recebeu da Polícia Federal 84 perguntas sobre uma recaída arcaica: o encontro noturno que manteve com o corrupto confesso Joesley Batista, no Palácio do Jaburu. Temer terá 24 horas para responder. As questões são aviltantes e constrangedoras.

Autorizado pelo ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, o interrogatório é aviltante porque o brasileiro não merecia uma nova crise envolvendo a autoridade máxima da República. O depoimento é constrangedor porque as perguntas que Temer recebeu da PF são mais embaraçosas do que as respostas que o presidente não terá condições de dar.

A hipótese de Temer sair ileso de uma experiência como esta é inexistente. Seus advogados alegam que o interrogatório é prematuro, pois ainda não ficou pronta a perícia no áudio da conversa que Joesley gravou às escondidas. Porém, conforme realçado aqui, o presidente endossou trechos do diálogo, incriminando-se.

Fachin recusou-se a postergar o depoimento. Lembrou que, se quiser, Temer pode usufruir do direito constitucional de calar para não se autoincriminar. Nesta hipótese, assumirá um comportamento típico dos culpados.

A grande dúvida nacional deixou de ser: 'com gás ou sem gás?' Ou ainda: 'com açúcar ou adoçante?' A pergunta que inquieta os brasileiros é: Michel Temer ainda tem condições de responder ao interrogatório da PF como presidente da República ou foi reduzido à condição de suspeito?

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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