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Uma lápide para o TSE: ‘Coveiro de prova viva!’

Josias de Souza

09/06/2017 16h09


Ao concluir a leitura do voto em que recomendou a cassação da chapa Dilma-Temer, o relator Herman Benjamin soou fúnebre. Suas frases tiveram o peso de uma de lápide. Foi como se o ministro desejasse espargir a atmosfera malcheirosa do plenário do Tribunal Superior Eleitoral, borrifando no noticiário o cheiro de enxofre. "Eu, como juiz, recuso o papel de coveiro de prova viva", disse Benjamin. "Posso até participar do velório. Mas não carrego o caixão."

A maioria dos ministros do TSE decidiu mandar à sepultura as provas testemunhais e documentais referentes à Odebrecht e ao casal de marqueteiros João Santana e Monica Moura. Benjamin, entretanto, fez questão de manter em seu voto todo o pulsante conjunto probatório. Com isso, escancarou o que já estava na cara: a política brasileira tem código de barras.

O TSE esbarra no óbvio há tempos. Nos útlimos dois anos, o óbvio agigantou-se. E parte do tribunal resolveu passar adiante, fingindo não enxergar o óbvio. Pior: decidiu enterrar o óbvio. O número mais constrangedor do momento histórico vivido pela Justiça Eleitoral é este julgamento que não pode ser feito porque as provas foram eliminadas do espetáculo. Tribunal que mata provas comprova ter certa vocação para a morte. Para salvar Michel Temer, o TSE suicida-se. O relator forneceu a inscrição para a lápide: "Aqui jaz um coveiro de provas vivas."

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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