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Moro tornou constrangedora manobra pró-Temer

Josias de Souza

12/07/2017 19h05

Pelo menos dois operadores políticos de Michel Temer soltaram fogos ao saber que Sergio Moro condenara Lula a 9 anos e 6 meses de cadeia. "O Michel saiu do foco", disse um deles ao blog. Engano. Estrategista, o juiz da Lava Jato escolheu a data da divulgação da sentença com precisão cirúrgica. A novidade tornou ainda mais constrangedor o funeral que o Planalto realiza na Câmara para enterrar vivo o escândalo que fez de Temer um presidente denunciado por corrupção.

Moro anotou num trecho da sua sentença que a condenação de Lula não lhe trouxe "satisfação pessoal". E realçou: "É de todo lamentável que um ex-presidente da República seja condenado criminalmente, mas a causa disso são os crimes por ele praticados e a culpa não é da regular aplicação da lei. Prevalece, enfim, o ditado 'não importa o quão alto você esteja, a lei ainda está acima de você'…" Noutro ponto, Moro escreveu: "A responsabilidade de um presidente da República é enorme e, por conseguinte, também a sua culpabilidade quando pratica crimes."

No caso de Temer, a Câmara discute duas coisas: a acusação de que o presidente praticou corrupção passiva e o abafamento do escândalo. O que o Planalto exige dos seus aliados é que finjam que nada aconteceu. Cria-se uma atmosfera de faz-de-conta que transforma a Câmara num tipo especial de cúmplice, que tem o poder de obstruir a Justiça, sonegando ao Supremo Tribunal Federal a oportunidade de analisar a denúncia.

A manobra pode protelar o veredicto.  Mas o que a decisão de Moro sinaliza é que a sentença, cedo ou tarde, virá. De resto, ficou mais difícil presumir que a plateia é feita de bobos.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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