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Centrão quer ex-soldado de Cunha na coordenação política da Presidência

Josias de Souza

16/08/2017 05h30

Insatisfeitos com tudo o que Michel Temer vem lhes proporcionando em matéria de cargos e verbas, os partidos do chamado centrão elevaram o nível da extorsão política. Julgam-se sub-recompensados pelos votos que cederam para enterrar na Câmara a denúncia contra o presidente por corrupção. Exigem agora a poltrona do ministro tucano Antonio Imbassahy, coordenador político do Planalto.

O centrão quer acomodar no lugar de Imbassahy o deputado Andre Moura (PSC-SE), atual líder do governo no Congresso. O personagem tem uma biografia dura de roer. Ex-oficial da infantaria parlamentar de Eduardo Cunha, hoje preso em Curitiba, Moura é chamado pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL) de "homicida" —uma alusão ao fato de que, entre os processos que correm contra Moura no Supremo Tribunal Federal, há um inquérito por tentativa de homicídio.

Ex-prefeito do município sergipano de Pirambu, André Moura foi sucedido por um aliado chamado Juarez Batista dos Santos. Os dois se desentenderam. Tornaram-se inimigos políticos. A casa de Juarez foi atacada por quatro homens encapuzados. Houve troca de tiros. Um vigia que montava guarda na casa foi ferido. E Juarez acusou Moura de ser o mandante da agressão. O deputado nega.

O candidato do centrão à vaga de ministro palaciano é réu em três ações penais no Supremo. Numa delas, a Procuradoria diz que Moura, depois de deixar o cargo de prefeito de Pirambu (SE), continuou usufruindo do cofre prefeitura, que bancava desde a compra de alimentos para sua casa até as contas de telefone. Moura atribui as acusações às desavenças políticas que teve com o sucessor Juarez.

André Moura é investigado também em dois inquéritos relacionados à Lava Jato. Acusam-no de atuar em parceria com Eduardo Cunha para achacar empresas a partir de iniciativas adotadas na Câmara. Temer resiste à ideia de expurgar Imbassahy de sua equipe. O centrão sugere que o presidente desloque o auxiliar para outra pasta.

Líder do PSDB na época em que Eduardo Cunha (PMDB-PE) foi cassado e Rodrigo Maia (DEN-RJ) foi escolhido para substitui-lo, Antonio Imbassahy alardeou que deflagraria na Câmara uma articulação para acabar com o centrão. "Não basta eleger um novo presidente e cassar Eduardo Cunha", disse ele na ocasião. "É preciso aproveitar esse momento para desconfigurar o centrão, derrubando os muros que separam esse grupo do resto da Câmara." Ressuscitado por Temer, o centrão dá o troco.

Deve-se a Eduardo Cunha a criação do centrão. Na origem, a prioridade do grupo era sequestrar a pauta legislativa do então governo Dilma Rousseff. O centrão chegou a reunir 12 legendas: PP, PR, PSD, PTB, PROS, PSC, SD, PRB, PEN, PTN, PHS e PSL. Juntas, somavam 225 votos. Imbassahy se referia ao grupo com termos ácidos:

"O centrão é visto como uma bactéria dentro da Câmara. Mas há gente de valor nesses partidos. São deputados que podem ser atraídos para uma agenda de interesse do país. Nossa obrigação é tentar requalificar as relações na Câmara, derrubando muros, buscando convergências."

Agora, é o grupo enxerga Imbassahy como um vírus a ser combatido. O grupo agarra-se ao fato de metade da bancada tucana ter votado a favor da continuidade do processo contra Temer. "Ficou demonstrado que o Imbassahy não coordena nem o partido dele", diz um dos líderes do centrão. A nova investida chega num instante em que o Planalto perde musculatura no Congresso.

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Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.


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